História
Origem
O local onde actualmente está implantada a aldeia de Monte Frio era constituído por matos e terras incultas. Esta parcela de terra foi entregue a Vasco Domingues, o fundador da povoação, encarregado de construir casas e fazendas. As primeiras casas foram feitas com madeiras da Mata da Margaraça, propriedade de fidalgos de Avô.
Sobre a ligação do nome da Aldeia de Monte Frio à Freguesia da Benfeita surge uma lenda que conta que os pastores levavam os seus rebanhos para o alto da serra e um dos sítios para onde iam era o Monte Frio. Como no alto da serra costumava estar muito frio, na vinda, os que tinham ficado na Benfeita, perguntavam aos que acabavam de regressar do Monte Frio: “Então como está lá o tempo?”. A resposta era: “Está muito frio”. O que era replicado num tom jocoso e brincalhão pelos da Benfeita: “Bienfecta” (bem feita).
Espaço Físico
O tipo de povoamento presente no Monte Frio é designado de aglomerado ou concentrado, em virtude do forte relevo existente e por razões históricas, permitindo a defesa dos seus habitantes. Este tipo de povoamento criou uma forte ligação entre os vizinhos.
O Monte Frio foi a primeira terra da freguesia a ter uma carreira de serviço combinada com os Caminhos de Ferro que partia da aldeia e ia até Santa Comba Dão.
A luz eléctrica e o calcetamento a cubos de granito do largo e da rua principal foram inaugurados em 1968.
Existe na aldeia um coreto, este foi feito pelo povo e serve de espaço para os ranchos dançarem e para a orquestra lá tocar quando há festas.
Os lavadouros que existem na aldeia para além de servirem para as pessoas lavarem a roupa são também uma boa fonte de água para beber (fonte da Barroca) que as pessoas dizem que cura algumas doenças.
As estruturas das casas foram mudando ao longo dos tempos em Monte Frio. Até meados do século XX as casas eram todas construídas com a pedra existente na região, o xisto (paredes e telhados), e com madeira nomeadamente o carvalho (todos os materiais eram oriundos da região). Tinham geralmente um andar, destinado às pessoas, e as lojas no rés-do-chão eram para os animais, para arrecadação e armazenamento das culturas. Poucas casas tinham forno, mas os que tinham permitiam o seu uso por toda a povoação do Monte Frio. Nenhuma das casas tinha casa de banho.
População
O número de habitantes teve ligeiras oscilações ao longo dos anos, devido às crises agrícolas que causaram fome e provocaram um aumento na mortalidade.
No século XX, a causa do decréscimo da população, que se fez sentir de forma lenta e progressiva, foi fruto do êxodo da maioria dos seus habitantes para as áreas litorais do território de Portugal continental e alguns mesmo para fora do país.
Actualmente a população do Monte Frio é idosa, constituída fundamentalmente por reformados, sendo a pirâmide de idades irregular e invertida, com grandes classes etárias idosas em relação às mais jovens.
Economia Local (Passado)
A pastorícia foi uma actividade que houve desde sempre no Monte Frio, mesmo antes da sua fundação. Hoje em dia já não há nenhum pastor.
Até aos anos 80, ainda havia uma pequena indústria ligada à floresta, que consistia na fabricação de colheres de pau e alguns seringueiros que extraiam a resina dos pinheiros.
O fabrico de carvão (antigamente única fonte de energia) que era feito quase por todos os montefrienses, na serra ou ao pé da povoação, era depois vendido a ferreiros de Oliveira do Hospital e a outros.
Entretanto, quase desaparecido, era feito no Monte Frio algum artesanato para autoconsumo, como chapéus de palha, chinelos de pano, cestos e cestas de vime.
Até aos anos 60 existiam 3 indústrias de camionagem (de carvão e madeira).
Existiam duas costureiras com muitos clientes, uma viatura de aluguer e o serviço de barbearia chegou a ser feito pelo distribuidor de correio.
Economia Local (Presente)
A agricultura é a actividade de maior importância no Monte Frio, ocupa a maior parte da população. A pecuária e a silvicultura são actividades que também são exercidas, como complementares à agricultura.
Nas produções agrícolas do Monte Frio, influem naturalmente o clima (muito quente no Verão, e muito frio com geadas, forte vento, e às vezes neve no Inverno), a precipitação (pouca no Verão, e abundante no Inverno), o relevo (muito acentuado, que é constituído unicamente por pequenos socalcos, pelos montes acima) e o solo (de aptidão muito limitada, ou não muito rico com muitas pedras soltas).
O tipo de culturas existente no Monte Frio caracteriza uma agricultura de subsistência ou de auto-consumo. A castanha, é o produto de primeira qualidade da região, de muito boa qualidade e aceitação comercial, mas cada vez menos se produz.
O comércio do Monte Frio resume-se, actualmente, aos artigos vendidos na Casa da Comissão de Melhoramentos de Monte Frio. Periodicamente vão ao Monte Frio carrinhas do talho, da padaria, da peixaria e de artigos gerais.
Escola
Actualmente a aldeia não tem escola por falta de alunos. Mas em 1964 tinha ainda 29 alunos .
Religião
A aldeia tem duas capelas: a Capela da Nossa Senhora da Boa Viagem e a Capela em honra do Milagroso Bom Jesus.
A festa anual do Monte Frio é em honra do Milagroso Bom Jesus (o padroeiro do Monte Frio) e da Nossa Senhora da Boa Viagem – e realiza-se no primeiro fim-de-semana de Agosto ou excepcionalmente no segundo fim-de-semana de Agosto.
Na entrada da povoação existem umas alminhas em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem.
Tradições
Na freguesia da Benfeita os habitantes de cada localidade têm diferentes alcunhas, no caso do Monte Frio são os “Valentões”.
O jogo mais tradicional e mais antigo que se conhece em Monte Frio é o jogo da malha ou chinquilho (e também o jogo do fito, sendo este uma variante daquele jogo).
Existem alguns resquícios de uma linguagem primitiva utilizada frequentemente pela população. São chamados de termos vernáculos de Monte Frio.
Muitos artefactos e objectos de artesanato foram e são utilizados pela população montefriense, destacam-se a roçadoira, a sachola, o ancinho e os chapéus de palha.
No dia 1 de Maio existe, na freguesia da Benfeita, a tradição de apanharem ramos de giestas para colocarem junto das portas e das janelas, servindo para assustar as cobras e para que as pessoas que vivem na casa não passem fome durante o ano.
Gastronomia
A gastronomia montefriense foi e é muito influenciada pelos produtos agrícolas que a terra dá na região, os frutos das árvores existentes na região, os produtos dos animais e os próprios animais são para consumo doméstico.
Destaca-se a chanfana de borrego ou carne fresca, o bucho, o arroz de fressura, o arroz de feijão, a broa de milho, a esmagada, os chouriços, o presunto, os tostelos, a aguardente de mel, a ginjinha, alguns licores, os coscoréis, as filhós e a tigelada.
A aguardente de mel é a bebida mais típica da região.
Bibliografia
CARVALHO, Rui Pais (1994) – Benfeita: uma terra e um povo. Arganil: Comarca de Arganil.
VALE, Fernando (1995) – Arganil e o seu concelho. Porto: Editorial Moura Pinto.
VICENTE, António dos Santos (1995) – Vida e tradições nas aldeias serranas da beira. Montijo: Sograsul.