Piódão

Comissão de Melhoramentos de Piódão

Comissão de Melhoramentos do Piódão

Em 1 de Julho 1952 nasce, em Lisboa, mais uma Comissão de Melhoramentos. No ano seguinte, mais precisamente em 3-2-1953 foram aprovados pelo Governo Civil de Lisboa os Estatutos da Comissão de Melhoramentos da Freguesia do Piódão, em que:

  • Sob a designação de “Melhoramentos da Freguesia do Piódão” é criada uma associação regionalista constituída por pessoas de ambos os sexos que tenham nascido na freguesia do Piódão ou a ela estejam ligados por quaisquer laços de parentesco, amizade e outros.
  • Os seus fins são:
    1. Procurar unir a colónia da freguesia do Piódão residente em Lisboa e, estabelecer entre ela o máximo da solidariedade e cooperação;
    2. Concorrer por todos os meios ao seu alcance para os melhoramentos e engrandecimento da freguesia do Piódão, dotando todas as povoações de tudo quanto esteja dentro das suas disponibilidades e reverta em benefício dos seus habitantes, actuando sempre de acordo e em colaboração com a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia.

A Fundação

Em 1950 o Piódão era uma freguesia com 1125 habitantes, isolados do mundo, sem telefone, sem estrada, sem professor na escola, sem assistência médica. Só a assistência religiosa era próspera.

Para acesso à sede do conselho, Arganil, era necessário enfrentar 4 dezenas de quilómetros a pé, pernoitando em casa amiga nos Pardieiros, Relva Velha, Benfeita ou outra terra que permitisse no dia seguinte prosseguir o caminho.

As estradas nacionais e municipais passavam a 15 quilómetros de distância, ou mais, e não se vislumbrava a desejada aproximação. Para se conseguir viajar de camioneta ou automóvel efectuava-se a longa caminhada com “armas e bagagens” entre Piódão e Vide, Ponte das Três Entradas, Pomares ou Avô. Coja ficava então muito distante.

O comboio passava, como ainda hoje, a 40 km do Carregal do Sal, a 44 no Tortosendo e a 46 de Serpins. Eram estas as distâncias que os nossos avós e alguns dos nossos pais percorriam a pé para se dirigirem à capital ou outras paragens.

O milho era a base da alimentação dos pobres, a imensa maioria de gente que viva frugalissimamente, numa situação vizinha da mendiguez.

A juventude não tinha outro horizonte além de aventurar-se a ir nove meses por ano para a Quinta da Lagoalva, Granja ou outra, onde era bem acolhida por alentejanos ou ribatejanos, impressionados pela economia, resistência e aptidão exímia para o trabalho.

Muito mais estava por fazer… do Piódão ao mundo contemporâneo era enorme a distância! Pensava-se no telefone, mas os encargos? 250 Escudos para a instalação; 3 mil para a cabine e 409 para o aluguer mensal. Só formando uma Comissão de piodenses que todos os meses dessem uma cota. A 1 de Julho de 1952 nascia assim a Colectividade do Piódão, denominada Comissão de Melhoramentos da Freguesia, cujo embrião encontramos dois anos antes.

Os primeiros passos

Ao findar aquele Verão de 1952, Lisboa retomava o seu movimento habitual e os filhos do Piódão que nessa cidade laboravam haviam terminado as férias, passadas no aconchego familiar nas entranhas da serra do Açor.

Os domingos iriam ser aproveitados para organizar o colectivo da Comissão. A 21 de Setembro, às 18 horas, no número 15 da Rua do Conde, ali às Janelas Verdes, a casa do Sr. Abílio João Marques, servia de sede provisória, para a realização da primeira Assembleia.

Os sócios

No ano da fundação registavam-se 47 sócios. Em 1956, a 5 de Fevereiro, dá-se o acordo entre os sócios naturais do Piódão e os naturais de Chãs d’Égua para a formação da União Progressiva de Chãs d’Égua. Uma nova força impulsionaria, a partir de então, o progresso da freguesia do Piódão.

As obras

O propósito da Comissão dotar a freguesia com os bens públicos que existiam nas comunidades do século XX, enquadrava-se em duas componentes, as autarquias e a população, qualquer uma delas com as próprias dificuldades.

As autarquias, por falta de meios, viviam um imobilismo que as incapacitava para as obras que o Piódão precisava, resultados da política nacional.

A população, os piodenses, apesar de toda a falta de estruturas e apoio, conseguia organizar-se para necessidades primárias de construção de habitações, caminhos, fornos, moinhos, fontenários, pontões e outras. Faltou a alavanca para que a mesma força chegasse às necessidades colectivas do mundo moderno.

O estado destas duas componentes viria a ter os seus reflexos na comissão que representava uma tentativa de ultrapassar as dificuldades de uma e outra, mas tendo forçosamente de contar com ambas.

1. A Casa da Comissão

Pela sua importância começou-se pela Casa da comissão, um belo edifício de 2 pisos, construído à Fonte Castanheiro. Mas, muito mais importante foi o trabalho da população. A areai, o cimento, a telha e outros materiais foram transportados por força humana desde as Portas do Inferno e da Verdumeira, onde chegou a primeira estrada a terrenos de Piódão. Gente de todas as idades, incluindo as crianças da escola, colaboraram neste trabalho que, embora simbolicamente pago, exigia sacrifícios que o dinheiro não recompensa.

A inauguração terá sido em 2 de Dezembro de 1956, aquando da abertura do Posto Médico.

  • Posto Médico
    Inaugurado em Junho de 1956, veio a designar-se “Centro de Assistência Social do Piódão” com estatutos próprios e subsidiado pela Direcção Geral de Assistência. Este Centro veio a ser extinto em 1973 e o mesmo espaço foi alugado à Casa do Povo de Coja, a 21 de Outubro.
  • Residência da Professora Oficial
    Atendo às condições geográficas, climatéricas e, consequente isolamento e atraso em que se encontrava o Piódão, qualquer professor ou professora, habituado ao progresso, sentia dificuldades naturais em se instalar durante 9 meses no Piódão.Para minimizar tais dificuldades, a Comissão pensou logo de inicio em destinar uma parte da sua casa, no 2º piso, para residência da professora oficial.

A partir de 1973, as Assembleias Gerais, começaram a discutir propostas de lançamento de uma renda simbólica para esta residência. Uma forma de comparticipação na conservação do edifício, bem comum que é do povo.

  • Salão da Comissão
    Numa outra divisão do 2º piso forma instalados os serviços da Junta de Freguesia, Regedoria, Posto do Registo Civil, Delegação da Colectividade e ainda Telescola. É evidente que esta solução não foi só provisória mas também anacrónica.

2. As Estradas

Por volta de 1800 existia a estrada de ligação do Fundão-Castelejo-Silvares-Piódão (S. Pedro do Açor) – Catraia da Fonte Espinho-Pomares e Coja, etc. Foi construída pelas populações da região, substituindo o caminho anterior que cruzava em Cebola (hoje S. Jorge da Beira) e passaria na “Foz Piódão” (zona actual da Foz d’Égua). Embora cheia de perigos, era considerada pelos almocreves a vai mais rápida e curta para levar ao Fundão e à Covilhã, em dois dias, o peixe e os géneros que desembarcavam na Raiva – Foz do Alva – para os carros de bois.

A Era dos caminhos-de-ferro e das estradas de automóveis, deixaram intocável a zona do Piódão. Os piodenses, sobre os quais caía o isolamento, iam por si próprios arranjando os caminhos que diariamente calcorreavam pela serra, em direcção a Pomares, Avô, Aldeia das Dez ou, acompanhando a ribeira, em direcção a Vide.

Bastante tarde tiveram condições e sentiram forças para rasgar uma estrada com as próprias mãos, o ramal da Verdumeira.

Em 1951 tinha sido aprovada uma estrada florestal de 35 km, Senhora das Necessidades – Piódão – Vide. Em breve começaram os trabalhos, mas muito tempo os piodenses tiveram de esperar por essa obra. Só na década de 60 chegou ao limite do Piódão. Podendo considerar-se uma boa estrada, a volta que deu pelo Colcorinho, Cabeço barroqueiro e Panca, aumentou-lhe desnecessariamente a distância que desencorajava a sua utilização. O investimento teria sido mais proveitoso pelas Portas do Inferno, aproveitando o troço então feito pelos piodenses até ao Outeiro da Pocabreiro/Verdumeira.

O ramal de 1975, no Cabeço do Covão (Salgadeira), rectificativo da passagem pela Manjaneira, foi da inteira responsabilidade da Colectividade.

3. Os Telefones

O telefone no Piódão, cujos encargos a população teria de suportar directamente, foi o detonador para alicerçar a Colectividade.

Foi uma festa para a rapaziada quando viu aparecer o cabo. Todos, pequenos e grandes, foram ajudar a puxá-lo, desde o Malhadinho, pelo Curral das Sobreiras e Tapadinho. A 5 de Setembro de 1954 foi inaugurado o primeiro telefone no Piódão, o Posto Público.

4. Outras

O abastecimento de água a fontes públicas foi subsidiado pela Comissão. Fontenários, Pontes e outras obras urgentes das populações da freguesia estavam inscritas nas folhas de despesa da Colectividade.

5. Electricidade

O processo de electrificação do Piódão só começou a formar corpo em 1973.

A 17 de Março de 1974 foi planeada com o Presidente da Câmara uma audiência conjunta com o Ministro das Obras Públicas e Comunicações para a electrificação e saneamento básico do Piódão. Nova Era se aproximava para os Portugueses, sobre o horizonte pairava a aurora do 25 de Abril.

Algum tempo iria, entretanto demorar a electrificação, visto que a proposta da Academia Nacional de Belas Artes era no sentido do Piódão ser considerado “aldeia turística de utilidade pública”. O nome começou a soar aos ouvidos das gentes. A conservação e defesa das suas características típicas, eram palavras de ordem já ameaçadas pelo progresso, devido à ordem tardia a que chegavam.

Em 1976 foram instalados os primeiros contadores e tudo se preparou para receber a energia eléctrica. No entanto, só em 1978 chegou a iluminação ao Piódão.

Sempre foi preocupação da Comissão de Melhoramentos o bom entendimento com todas as instituições em conjugação de esforços para o bem da população.

Associação de Compartes da Freguesia do Piódão

A Associação de Compartes da Freguesia do Piódão (ACFP), formada em 1977 é composta pelas Assembleias de Compartes de Malhada Chã, Fórnea, Tojo, Chãs d’Égua/Torno e Piódão, e gere as áreas baldias de cada uma destas aldeias, tendo como base os recursos provenientes da exploração de energia eólica.

Em 2004 a ACFP, em conjunto com a Junta de Freguesia de Piódão, foi promotora de um documento intitulado, Plano de Acção Integrado para a Freguesia do Piódão. Elaborado após um conjunto de reuniões com a população da freguesia, este documento, contempla um conjunto de intenções, com prioridades estabelecidas e que objectivam a melhoria das condições de vida da população na vertente social e económica.

Foi constituída uma equipa de Sapadores Florestais (2004), que tem desempenhado um importante papel na realização de acções de silvicultura preventiva e apoio aos demais projectos da ACFP.

Em 2007 a ACFP realizou uma candidatura ao Programa Operacional do Ambiente (QA III) e implementou: uma Unidade de Pastoreio Extensivo que visa a redução da biomassa florestal numa área de 250 há e se encontra a funcionar com 190 animais de raça autóctone (caprinos de raça Serrana); um Percurso Pedestre que contribui para a redução da pressão turística que existe na Aldeia do Piódão e para criação de um turismo de qualidade; e um Centro Interpretativo da Aguardente de Medronho.

Em suma, na última década os recursos têm sido aplicados na área de do Desenvolvimento Rural, apostando sobretudo, na recuperação/revitalização de algumas actividades, como a silvopastorícia e aproveitamento dos seus produtos (carne e leite) e a apanha e transformação do medronho.

Actualmente, a ACFP está a criar novas formas de dinamização e exploração das infra-estruturas existentes, através da sua inclusão em roteiros turísticos.

Casas de Turismo Rural

A aldeia do Piódão apresenta uma disposição típica de montanha com declives acentuados e vales estreitos, resultando assim, num aglomerado de casas dispostas como um anfiteatro de meia encosta.

Por fazer parte do projecto Aldeias Históricas de Portugal, tem de salvaguardar o seu património. Tal facto “exige” que as suas casas sejam tipicamente construídas pelos materiais que a Serra do Açor proporciona: xisto, madeira e lousa.

A maioria das casas guarda a estrutura de antigamente, composta por dois pisos. O primeiro piso era usado como arrecadação para os “frutos” da lavoura. O outro piso destinava-se à habitação propriamente dita. O seu interior é forrado por madeira de castanho e o telhado é suspenso por barrotes cobertos por xisto, apresentando-se bastante escuro e escasso de mobiliário. Não sendo muito diferentes umas das outras quer no interior, quer no exterior, todas as paredes externas são constituídas por duas camadas, uma exterior coberta por pedras maiores e uma interior com pedras mais pequenas. Os telhados são forrados por lousa.

A título de curiosidade, uma outra característica típica, um tanto misteriosa, prende-se ao facto de o azul pintar as portas e janelas destas habitações. Não se sabe ao certo a razão da sua essência, no entanto, há quem diga que era a única tinta que havia na loja, consequência do isolamento em que o Piódão se encontrava.

A construção de uma estrada (concluída em 1970), conseguiu por fim a grande parte do isolamento vivido até então. Por conseguinte a afluência de visitantes era cada vez maior. Perante isto, houve a necessidade de elaborar um projecto de forma a que os turistas pudessem desfrutar da beleza e tranquilidade que o Piódão proporciona. Foi então construído o projecto “Casas da Aldeia”, não deixando escapar as características típicas das habitações da região

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