Pardieiros

Origem

Pardieiros é uma aldeia situada na freguesia de Benfeita, concelho de Arganil, inserida na paisagem protegida da Serra do Açor. As referências à sua existência remontam a 1527.

Relativamente ao nome da aldeia dizia-se que nem sempre foi Pardieiros, só conheceu este nome quando foi reabitada após uma epidemia de febre tifóide e as casas que existiam estavam em ruínas. Antes dizia-se que se chamava Valverde.

Na freguesia da Benfeita os habitantes de cada localidade têm diferentes alcunhas, no caso dos Pardieiros são os “Ralhadores”.

Espaço Físico

Pardieiros é uma aldeia serrana, um pouco acima da Benfeita, entre a Fraga da Pena e a Mata da Margaraça. Pelo que é a única que fica dentro da zona da paisagem protegida da Serra do Açor.

À chegada aos Pardieiros fica a Cascata da Fraga da Pena. A água é uma presença constante.

Os terrenos são xistosos e, em tempos, usados para o cultivo de uma agricultura de subsistência. Trata-se de uma área protegida, com uma vegetação muito rica na sua diversidade: castanheiros, carvalhos, loureiros, medronheiros, azereiros, a urze, o rosmaninho, a carqueja e a giesta.

A Área Protegida, cuja altitude oscila entre os 400 m e os 1012 m, é atravessada por dois pequenos cursos de água permanentes, a ribeira da Mata da Margaraça, que vai desaguar no Alva junto a Côja, e a barroca de Degraínhos que se junta à ribeira da Mata, a jusante da povoação de Pardieiros.

A população de Pardieiros e Monte Frio tinha uma relação antiga e quotidiana, que se transformou numa relação apenas sentimental, com a mata. No entanto, foram abandonandas as azenhas e os fornos, as quelhadas e as courelas de castanheiros, exploradas em regime de talhadio. Mas foi esta população que salvou a mata do desbaste, quando em Setembro de 1978 mandou abrir valas na estrada para impedir a passagem das camionetas.

O perímetro da aldeia caracteriza-se pela existência de pequenos chãos e inúmeras pequenas parcelas de terreno chamadas de “quelhadas”, sustidas por paredes de xisto.

Antigamente, as casas de habitação, os currais do gado e os moinhos de água eram construídos com barro e xisto, o que já não acontece actualmente e que servia de isolamento, tanto para o frio como para o calor.

A Fonte Velha e o lavadouro comunitário foram construídos em 1922 e desempenharam um papel fundamental na aldeia, era o único local onde se ia buscar água para consumo doméstico e onde se lavava a roupa, reunindo deste modo bastantes pessoas, principalmente mulheres.

Existiram inúmeros moinhos de água, as chamadas azenhas, que serviam para moer os cereais, sendo de maior volume o milho, mas actualmente a grande maioria ruiu ou encontra-se num estado de completa degradação.

População

A população dos Pardieiros tem vindo a diminuir. No entanto, tal como a maioria das aldeias serranas, foi em outros tempos bastante povoada, chegou a ter 299 habitantes em 1911. A procura de melhores condições de vida, direccionada principalmente para Lisboa, Porto e Coimbra, conduziu à desertificação dos Pardieiros.

Actualmente a maior parte das pessoas são reformadas ou trabalham na agricultura, mantendo entre 55 a 65 habitantes com residência permanente.

Economia Local (Passado)

A maioria dos habitantes dedicava-se a uma agricultura de subsistência, cultivando milho, centeio, batata, feijão e outros produtos hortícolas, à vitivinicultura (vinho e aguardente), à olivicultura e pastorícia.

No caso de famílias grandes em que os terrenos não produziam o suficiente para o seu consumo, estas arrendavam terrenos numa das seguintes modalidades: a meias (metade da produção era para o arrendatário), a terços (um terço da produção era para o arrendatário) ou a um valor acertado (era combinado o valor no início do arrendamento e o arrendatário pagava-o no final de cada colheita).

À agricultura dedicavam-se principalmente as mulheres, os homens só ajudavam na altura das sementeiras, nas vinhas e nos olivais, dedicando-se mais ao fabrico das colheres de pau, o grande esteio económico da aldeia.

Nesta aldeia nunca existiram grandes rebanhos de caprinos ou ovinos, mas todas as famílias possuíam pequenos rebanhos.

Como a agricultura não dava o suficiente para as famílias se sustentarem, as pessoas começaram a desenvolver outras artes, surgindo assim pequenas indústrias artesanais: uma de tamancos e tamancas, de gamelas, de cestos, de tecelagem e de colheres de pau.

A indústria das colheres de pau era tão importante que existiam diversos armazenistas que se dedicavam à sua comercialização.

Existiam também alguns estabelecimentos comerciais, como as tabernas que vendiam um pouco de tudo à semelhança dos supermercados, sendo ainda um local onde se reuniam os homens depois de um dia de trabalho.

Economia Local (Presente)

Nos Pardieiros podem encontrar-se alguns artesãos de ferramentas em punho a esculpir pequenos toros de madeira do qual resultarão colheres de pau, uma arte que ninguém sabe muito bem como nasceu mas que aqui tem expressão, mantendo-se até aos dias de hoje. Houve períodos em que existiam 30 a 35 colhereiros a tempo inteiro.

A agricultura continua a ser de subsistência, continuando a predominância do cultivo de milho, a vitivinicultura (vinho e aguardente) e a olivicultura. Hoje qualquer destas áreas está reduzida a perto de zero.

Escola

Em 1930 foi construída a escola primária tendo o terreno sido oferecido por António Correia e a construção totalmente feita pelo povo de Pardieiros que depois ofereceu ao Estado para que ali fosse colocada uma professora.

Em 1931, foi inaugurada a primeira Escola Primária de Pardieiros, onde estudaram alunos de Pardieiros, Enxudro e Sardal.

A segunda Escola Primária, inaugurada em 1966, foi desactivada uns anos mais tarde por falta de alunos, a partir daí os alunos passaram para a escola da Benfeita, hoje também encerrada, os alunos são deslocados para o pólo de Côja.

Religião

O padroeiro da aldeia é o São Nicolau, havendo também a capelinha da Senhora da Saúde, muito venerada e mandada construir em 1908 por um senhor de Lisboa muito amigo de Pardieiros e devoto de Nossa Senhora da Saúde.

No final do século XIX, foi fundada a Irmandade de São Nicolau, tendo os seus estatutos sido aprovados em 1908 e reconhecidos por alvará do Governo Civil de Coimbra a 9 de Junho de 1910, registado no livro competente, servindo de Secretário Geral o Primeiro Oficial A. Manso Preto, passando mais tarde a chamar-se Irmandade de São Nicolau e Nossa Senhora da Saúde.

Tradicionalmente as festas da aldeia eram na terceira quinta-feira de Setembro, desde que não fosse além do dia 21 daquele mês. Com as alterações da entrada dos alunos nas escolas foi a data mudada para o último sábado de Agosto. Esta festa é organizada pela irmandade e pelos mordomos.

Tradições

A Festa em homenagem à Nossa Senhora da Saúde e ao São Nicolau começa na quinta-feira com um jantar na casa de convívio para toda a povoação ao qual se segue a arruada. A festa termina na segunda-feira.

A população recorria às “benzilhonas” que com as suas rezas e infusões de folhas e raízes de plantas iam curando algumas maleitas, como é o caso da espinhela caída, da gerpela e gerpelão, do estroncado, do mau jeito e da peçonha.

Na noite de Natal é tradição acenderem uma fogueira, a que chamam torgada, no largo da aldeia, que permanece acesa durante 2 ou 3 dias.

As Janeiras são uma tradição que ainda se mantém, em que os jovens da aldeia vão a cantar de porta em porta, pedindo chouriças ou queijos para de seguida se fazer uma patuscada.

No Carnaval as pessoas disfarçam-se e pregam partidas umas às outras. Nesta altura realizam-se também alguns bailes. Antigamente além dos bailes também faziam pequenas peças de teatro escritas e encenadas pelo Tio Alfredinho (Alfredo Gonçalves) e pela sua esposa. Faziam igualmente um boneco de palha, simbolizando o Entrudo, a cerimónia do enterro e queimavam-no.

A meio da Quaresma havia uma noite em que os jovens da aldeia iam a casa das mulheres mais velhas de quem não gostavam e cantavam-lhes quadras de provocação, serrando pedaços de cortiça ou madeira, numa tradição a que chamavam “serrar a velha”.

Na altura da Páscoa existe a tradição de ir à missa no Domingo de Ramos benzer o ramo de louro, que posteriormente era utilizado na comida. No Domingo de Páscoa iam novamente à missa e recebiam o folar dos padrinhos.

Antigamente os namoros eram um compromisso sério, em que os jovens começavam por ajudar a família um do outro.

Os casamentos duravam 3 dias e quase todos os habitantes da aldeia eram convidados. Havia uma senhora, cozinheira, que era sempre chamada para fazer todos os banquetes, Maria dos Anjos Correia, fez casamentos em várias aldeias sem nada cobrar, só por amizade aos seus amigos. Havia uma particularidade entre as aldeias do Sardal, Enxudro e Pardieiros, quando nestas aldeias se realizava um casamento as pessoas durante 3 dias não faziam o queijo nem comiam o leite das cabras e ovelhas, este era oferecido aos noivos para fazer os doces, arroz-doce, tapioca, tigelada, etc., para o seu casamento. Em alguns casos eram os ofertantes que vinham trazer o leite a uma distância de 3/4 km. As famílias dos noivos ofereciam sempre uma lembrança no casamento aos seus amigos. Além das iguarias tradicionais, havia a sopa dos casamentos e das festas, que consistia num fundo de puré de batata e feijão, hortaliça migada grosseira, fatias de pão de trigo e depois levava molha de carne assada tipo chanfana, arroz de fressura, os miúdos de carneiros ou cabras estufados com arroz, e a inevitável carne fresca tipo chanfana e galinhas coradas. Mais tarde passou a haver o cozido à portuguesa. Para os casamentos a broa de milho era especial, chamava-se broa coada. Era peneirada para uma fina peneira, levava mais centianinho, um produto derivado do trigo mas muito fino. É uma farinha especial que serve para misturar na do milho.

A carne de porco era antigamente a base da alimentação dos habitantes das aldeias serranas. No entanto, actualmente poucas famílias criam porcos. A matança do porco realiza-se normalmente em Dezembro, na altura do Natal, ou em Janeiro.

O pão que antigamente se consumia nas aldeias era de fabrico caseiro. Utilizando farinha de milho, centeio e trigo faziam a broa de milho, broa de centeio, broa de mistura e umas bolas recheadas. Esta tarefa era quase exclusiva das mulheres, normalmente os homens só ajudavam a acender o forno.

As roupas usadas antigamente eram normalmente feitas em casa ou pelas costureiras da aldeia e as melhores, aquelas que usavam em dias de festa e aos Domingos eram compradas nas feiras de Arganil e de Côja. Quanto ao calçado, no dia-a-dia os homens usavam tamancos e as mulheres tamancas e os sapatos e as botas eram igualmente guardados para os Domingos e dias de festa.

Existem lendas que referem a instalação de pequenas colónias de mouros em povoações próximas. Estes foram expulsos à pedrada, mas esconderam todos os seus bens debaixo de pedras. Conta a lenda que quem passa pela Peneda da Rodela a certas horas da noite ouve barulhos que vinham debaixo das pedras.

Outra das lendas conta que quando uma mulher tinha 7 filhos o último era lobisomem.

No dia 1 de Maio existe, na freguesia da Benfeita, a tradição de apanharem ramos de giestas para colocarem junto das portas e das janelas, servindo para assustar as cobras e para que as pessoas que vivem na casa não passem fome durante o ano.

Gastronomia

Dos pratos mais famosos destacam-se: chanfana, carne fresca, cozido à moda dos Pardieiros, arroz de fressura, torresmos de banha, torresmos de carne, bucho de porco recheado. Mas o mais emblemático era o lombo de porca, as costelas e a suã salgadas e demolhadas, fritas em azeite e banha e guardadas em potes de barro vidrado que serviam para acudir a uma emergência quando, sem ser esperado, apareciam em casa uns amigos. Ia-se à panela trazia-se umas postas de lombo ou suã, cortava-se às fatias e passava-se pela frigideira. Juntavam-se uns ovos e os amigos deliciavam-se com este petisco. Hoje as carnes de porco já não tem o mesmo sabor dado a diferença na alimentação e o tempo de engorda, são abatidos muito novos.

Existem ainda algumas especialidades da aldeia como é o caso da bola de milho, da sopa da festa, da broa da panela, das migas de broa, da tibornada, da salada rabaça com feijão e dos tortulhos ao natural ou com ovos.

Relativamente aos doces, destacam-se a tigelada, o arroz doce, o carolo doce, a tapioca, as sopas de leite, filhós de batata, filhós de chila, pão-de-ló e coscoréis.

Bibliografia

CARVALHO, Rui Pais (1994) – Benfeita: uma terra e um povo. Arganil: Comarca de Arganil.
SOARES, Vítor (2002) – Pardieiros – Sua História, Usos e Costumes das suas gentes. Arganil: A Comarca de Arganil.
VALE, Fernando (1995) – Arganil e o seu concelho. Porto: Editorial Moura Pinto.
VICENTE, António dos Santos (1995) – Vida e tradições nas aldeias serranas da beira. Montijo: Sograsul.