Foz d’Égua

Origem

A aldeia de Foz d’Égua pertence à freguesia do Piódão, na Serra do Açor. Em Foz d’ Égua encontramos a confluência das ribeiras de Chãs com a do Piódão. Existe ali uma praia fluvial.

Espaço Físico

A freguesia do Piódão está administrativamente integrada no concelho de Arganil, distrito de Coimbra, sendo a mais extensa do concelho, mas a menos densamente povoada, com 36,36 km² de área e 224 habitantes (2001). Densidade: 6,2 hab/km².

A freguesia inclui as seguintes aldeias e quintas: Piódão, Malhada Chã, Chãs d’Égua, Tojo, Fórnea, Foz d’Égua, Barreiros, Covita, Torno, Casal Cimeiro e Casal Fundeiro.

Na aldeia do Piódão, os tempos difíceis que a população viveu foram amenizados, todavia, por uma vida comunitária de entreajuda.

A geomorfologia do território decerto dificultou a vida dos seus habitantes. Para praticar a agricultura, foi necessário adaptar o terreno, criar condições para a ocupação de subsistência. Construíram-se muros de suporte às terras, os cômoros e cultivou-se em socalcos.

A flora é em grande parte constituída por castanheiros, oliveiras, pinheiros, urzes e giestas. A fauna compõe-se, sobretudo, de coelhos, lebres, javalis, raposas, doninhas, fuinhas, águias, açores, corvos, gaios, perdizes e pequenos roedores.

População

Até à década de 60 a freguesia do Piódão registou um crescimento contínuo da população, a partir daí esta tendência inverteu-se. Em quatro décadas a freguesia perdeu 79% da população, devido ao fenómeno migratório e ao envelhecimento da população.

O desequilíbrio etário nesta freguesia tem vindo a acentuar-se, verificando-se uma maior quebra populacional nos escalões mais jovens.

O envelhecimento reflecte-se no perfil das famílias, sendo que, em 2001, de um total de 108 famílias clássicas, 38 eram constituídas por um único indivíduo e 52 famílias nucleares sem filhos.

Relativamente ao perfil de instrução, a maior percentagem da população (42%) tem apenas o 1º ciclo, seguida de 27% de indivíduos analfabetos e 24% de indivíduos com 2º ciclo.

No que diz respeito à freguesia do Piódão, a partir de meados do século XX, a maioria da população emigrou para outros países ou para o litoral.

Embora a emigração para o Brasil, África ou Europa tenha sido relevante, o principal fluxo migratório dos habitantes da freguesia do Piódão foi quase sempre em direcção a Lisboa.

O primeiro momento de forte emigração para Lisboa sentiu-se com o fecho das minas da Panasqueira. Os trabalhos concentravam-se na estiva, na construção naval ou na lota. Nos anos 70 a alternativa a estes trabalhos era a pequena restauração, criando-se uma rede de cumplicidades que condicionava o acesso ao emprego, à existência de relações de parentesco, amizade ou vizinhança.

Actualmente, a desertificação das zonas do interior, afecta praticamente todas as povoações desta freguesia. As populações mais jovens emigraram para o estrangeiro ou para as zonas litorais à procura de melhores condições de vida, regressam às suas origens, sobretudo, durante as épocas festivas para reviver o passado e se reencontrarem com os seus congéneres.

Economia Local (Passado)

Ao longo dos tempos, as populações foram criando condições para a subsistência, conquistando à serra cada leira, cultivada em socalcos. E assim viveram durante séculos do mel, azeite, queijo, centeio e milho a que agregaram a exploração do carvão e das minas de volfrâmio.

O carvão era o “ouro negro dos pobres”. Para grande parte da população o carvão era a grande fonte de dinheiro. Apenas os ferreiros, carpinteiros, pedreiros, alfaiates, sapateiros, taberneiros e almocreves ganhavam dinheiro regularmente.

Durante muito tempo a agricultura, a pastorícia e a apicultura constituíram as principais actividades das populações do Piódão.

A freguesia do Piódão foi uma terra de pastores, com uma alimentação baseada em leite de cabra, queijo, carne de animais de criação domésticos (galinhas, cabras e porcos), mel, pão de centeio e castanha.

A pastorícia era feita pelo membro mais novo da família, com 7 ou 8 anos de idade, que ia para a serra até ao pôr-do-sol, enquanto o resto da família se encarregava da agricultura.

A estrada real, que ligava Coimbra à Covilhã, trazia à freguesia as caravanas carregadas de peixe fresco e sal, que partiam com a carne, o queijo e os lanifícios da povoação.

Os moinhos tiveram uma grande importância no quotidiano da população do Piódão, trabalhando noite e dia a moer os cereais. No entanto, actualmente encontram-se abandonados e alguns em ruínas.

Economia Local (Presente)

Os habitantes da freguesia do Piódão dedicam-se, sobretudo, à agricultura (milho, batata, feijão, vinha), à criação de gado (ovelhas e cabras), à construção civil, ao comércio, a actividades relacionadas com o turismo e em alguns casos à apicultura.

Relativamente ao perfil sócio-económico, tendo em consideração a população activa em 2001, 61% pertencem ao sector primário (maioritariamente na agricultura), 21% ao secundário (principalmente construção civil) e apenas 18% ao terciário (quase exclusivamente comércio e actividades relacionadas com o turismo).

Escola

Em Foz d’Égua não existia escola, as crianças iam para Chãs d’Égua ou para o Piódão.

Religião

Na aldeia não encontramos nenhuma capela, apenas um Santo António e a Senhora de Fátima. A missa era no Piódão.

Antigamente ao domingo nenhum habitante da freguesia faltava à missa, nem as actividades diárias como a rega do milho e a pastorícia os impediam. Rituais diários antigamente como rezar no final das refeições, o terço ao serão e o pedido de bênção aos pais antes de deitar, caíram em desuso.

Foz d’Égua está presente na festa de Nossa Senhora da Conceição. Esta festa é um dos rituais religiosos que ainda persiste. Realiza-se anualmente, no domingo seguinte ao 15 de Agosto, com uma procissão (realizada apenas de 2 em 2 anos).

No Natal ainda hoje se realiza a tradicional Missa do Galo, no Piódão, em que dão o Menino Jesus a beijar.

O dia de Reis tinha um grande significado religioso, era o Dia Santo de Guarda, à semelhança do Domingo em que ninguém trabalhava. Neste dia as crianças iam pedir os Reis, recebendo castanhas piladas.

Também o Domingo de Ramos era um dia muito importante, em que todos da freguesia do Piódão iam à missa benzer o ramo, composto de louro, oliveira, murta e alecrim. Estes ramos eram guardados e queimados em dias de trovoada para afastar a peste.

No domingo de Páscoa depois da missa, o padre e o sacristão levavam a cruz a beijar a casa das pessoas na chamada Visita Pascal ou Boas Festas. Esta tradição ainda se mantém actualmente em Foz d’Égua.

Na Quinta-feira de Ascensão, conhecida como o Dia da Espiga, era tradição nas aldeias da Serra do Açor as pessoas irem apanhar um ramo de espigas de centeio, ramo de oliveira, alecrim e flores silvestres, com o objectivo de alcançar a bênção de Deus para os campos, para que houvesse pão, azeite e saúde durante o ano.

Tradições

Na terapia popular recorria-se à utilização de infusões de ervas silvestres, acompanhadas de rezas e tradições herdadas de gerações anteriores, como o mau-olhado ou mal de inveja, o responso de Santo António, o responso para afastar a Trovoada, coser o braço ou o pé estortagado, ou o corte da Gerpela.

No domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim a protecção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.

No Natal a fogueira era uma componente indispensável. Era à sua volta que se reuniam todos, levando troncos de oliveira para arderem na fogueira e o que restava, o chamado “tição do Natal”, voltavam a levar para casa para acenderem em noites de trovoada. Nesta noite de Natal comiam-se os bolos da fogueira (filhoses) fritos em azeite no caldeiro de cobre pendurado sobre a fogueira da lareira.

Na véspera de Ano Novo voltavam a acender a fogueira com os restantes cepos que sobravam do Natal. No dia seguinte após a missa, os mais jovens iam de porta em porta cantar as Janeiras, tradição que já se perdeu actualmente. Os jovens levavam um fargoeiro para transportar os enchidos que iam recebendo.

Gastronomia

Relativamente à gastronomia local encontramos como principais pratos da freguesia a carne de festa ou chanfana, o cabrito assado, a sopa serrana; o caldo da panela; as migas de bacalhau; a açorda; o presunto; o bucho de porco recheado; os maranhos; a broa de milho.

Dos doces fazem parte a tigelada à moda do Piódão, os bolos do forno, bolos da fogueira ou filhoses e os biscoitos de azeite.

A aguardente típica nesta freguesia é a aguardente de mel e de medronho.

Bibliografia

BRITO, Célia (1999) – Piódão: Terras do fim do mundo. Maia: Sersilito. ISBN 972-95116-9-1.
PEREIRA, José Fontinha (2004) Piódão, Aldeia histórica, presépio da Beira Serra: histórias, lendas e tradições. Piódão: Edição do autor.
RAMALHO, Paulo (2004) Lendas e histórias do Piódão. Arganil: Câmara Municipal de Arganil.
VALE, Fernando (1995) – Arganil e o seu concelho. Porto: Editorial Moura Pinto.
VICENTE, António dos Santos (1995) – Vida e tradições nas aldeias serranas da beira. Montijo: Sograsul.