O carteiro ‘Mina’

Monte Frio, 09 Abril 2012

O António Mina, da Benfeita, nosso carteiro durante tantos anos, na década de sessenta, partiu há dias, deixando a saudade da convivência natural nos bons velhos tempos, em que tudo era uma família. Aliás, o Mina tinha ascendência no Monte Frio, ele mesmo sentia-se um dos nossos, tratava todos por primos.

Era filho do Zé Augusto barbeiro, o homem que, para além de fazer as barbas e cortar o cabelo ao pessoal também era «médico» da população, sendo chamado para todas as doenças, aflições e dores. Sempre solícito e disponível montava o seu cavalo e subia as veredas desde a Benfeita até Monte Frio. Figura conceituada, trazia a cura nas mezinhas, papas de linhaça, emplastros e ventosas.

O António Mina era uma referência da freguesia da Benfeita e sempre manteve grande afinidade com as nossas gentes. Enquanto lhe foi possível, não perdia oportunidade de visitar a nossa terra, de conviver connosco, a recordar os tempos árduos da sua profissão de carteiro. Quantas histórias pitorescas e quantos episódios curiosos se passaram naquelas caminhadas à torreira do sol, ou ao frio das geadas, pelas aldeias da freguesia. Ficou famosa aquela cena passada no Monte Frio: «Fujam, fujam, que eu mato-me», gritava o António Mina, montado na sua motorizada, sem travões, rua abaixo, em grande velocidade, indo esbarrar, com estrondo, na casa ao lado da taberna do Alvoco. Um acidente do nosso carteiro, felizmente, sem graves consequências.

Em Dezembro de 2006, a Comissão de Melhoramentos de Monte Frio teve a feliz ideia de homenagear com o «Diploma da Afinidade», os dois primeiros carteiros profissionais da nossa terra: o Alberto Sebastião Trinta de Carvalho, de Côja e o António Alberto Martins ‘Mina’, da Benfeita. Foi num almoço de confraternização inesquecível, realizado no Salão Social do Monte Frio. Por essa altura o amigo ‘Mina’ entregou-me uma pequena missiva (escrita em papel timbrado do Jornal de Arganil) que ainda guardo e hoje aqui transcrevo, em sua memória: «Amigo Vítor Cândido. O Mina, quando abre o jornal, vai logo ver as notícias sobre o nosso Monte Frio, assinadas V. C.. Adoro ler essas notas sobre o bairrismo dessa terra tão linda, na qual considero muitos amigos. E, por esse motivo, como li no jornal assuntos sobre as obras em curso da vossa comissão, ou seja, as da Casa de Convívio, aí mando uma pequena oferta para ajudar nas obras. É pequenina mas é de boa vontade. O meu nome é António Alberto Martins, mais conhecido pelo Mina».

Este gesto do ‘Mina’ diz bem do seu bairrismo e do ele representava para a nossa comunidade.

Os versos do ‘Mina’

Numa outra folha, o António ‘Mina’ escreveu e enviou uns versos alusivos ao Monte Frio, que também hoje transcrevo, em sua memória:

- Monte Frio, aldeia tão linda

- Com suas casas caiadas

- Daqui se avista a Deguimbra

- Pai das Donas e Luadas

- Com esta linda paisagem

- A que o Senhor nos conduz

- À saída… a Senhora da Boa Viagem

- Ao fundo… o Milagroso Bom Jesus

- Situada cá na serra

- Com esta beleza perfeita

- Monte Frio, que linda terra

- Da freguesia de Benfeita

António Alberto Martins ‘Mina’ faleceu no mês passado, aos 84 anos. É uma figura carismática da Benfeita que desaparece, o célebre conservador do famoso «Sino da Paz», na Torre de Xisto, da nossa sede de freguesia. O ‘Mina’ deixou saudades. Que descanse em paz!

V. C.

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