“Eu e a outra rapaziada aventurámo-nos”

Andei 33 meses na tropa. Depois, em 1939, fui-me mesmo embora, porque na aldeia não dava nada, era muito pobre. Normalmente, a quase todos os rapazes iam para Lisboa. Era a única maneira. Não havia futuro para se viver no Monte Frio. Era uma vida difícil, naquele tempo, eu e a outra rapaziada aventurámo-nos! Eu comparo isto como os emigrantes que vão para a França. A vida era mais ou menos nesse género.

Foi o pai do meu primo Zé Francisco, que me levou para Lisboa. Noutros lados trabalhavam outras pessoas do Monte Frio. Viviam na Casa da Malta, umas camaratas onde tinham as suas roupas, as suas coisas e faziam lá o comer. Tinham que o fazer, porque os ordenados eram pequenos, não dava para irem comer numa pensão ou numa taberna. Era a maneira de viver naquele tempo. Eu, por acaso, não fui, vivia com o meu tio. Depois, mais tarde, fiquei sozinho. Morava na Rua Gonçalves Crespo. Tinha um quarto pequeno, mas muito jeitoso. Daí é que eu tive pena de sair. Foi quando vim para Monte Frio, no tempo da guerra.