“Uma roupa bonita”

Ainda me lembra a roupa que levei quando comunguei a primeira vez. Era uma roupa em branco, mas um branco muito bonito. Sei que não era chita nem nada. Era um pano bom, uma coisa boa. Era aqueles panos que havia naquela altura, mas nem todos compravam aqueles panos bons. Os meus pais quando iam para me comprar uma roupa qualquer, compravam logo roupas boas. Tinha risquinhas verdes em cima do branco. Caía-lhe muito bem. O verde em cima do branco caía muito bem. A saia era também clarinha e tinha umas riscas encarnadas “pia baixo” em cima do branco. Tanto o verde parecia bem com o branco, como a saia com o encarnado. A saia também ficava bonita. Ainda não há muito tempo, encontrei uma da Dreia, que é a primeira povoação que se encontra aqui em baixo. Ela veio “pia cima” comigo e diz-me assim:

- “Você, quando comungou, era a que lá ia mais asseada, mais bonita. Levava uma roupa muito bonita.”

Digo assim:

- Pois ia! Eu tinha uma roupa bonita, tinha.