“Os nomes que punham às coisas”

O Monte Frio já está na internet e há lá coisas muito engraçadas. O meu neto mais velho já veio com o computador para eu ver. Fala de como era antigamente, os nomes que davam a isto, o que é que se chamava àquilo. As pessoas agora admiram-se com os nomes que punham às coisas que agora são muito diferentes. As pessoas agora, estes rapazes e raparigas de agora, riem-se com os nomes que usavam nas coisas antigamente.

Eu tinha um tio que era taxista em Lisboa, era irmão da minha mãe. Um dia transportou o doutor Vitorino Nemésio. O meu tio era muito reinadio, a gente até diz que o meu filho ficou com uma costela dele porque o meu filho também assim é. O meu tio quando transportou o senhor disse assim:

- “Ó, senhor doutor, lá na minha terra chamam a uma frigideira uma pele.”

Chamavam antigamente. E ele que se começou a rir muito e disse assim:

- “Ai, essa é que ao diabo não lembra!”

E o meu tio riu-se também. Mas era, antigamente, já há uns anos muito anteriores, já até detrás da minha mãe, lá dos meus avós, uma frigideira onde a gente frita a sardinha, o peixe e a carne, chamavam uma pele.

A gente chama aquele pau de varrer o forno, porque não sendo bem varridinho agarram-se as brasas à broa, a gente chama um vassouro. É um pau comprido e arranjava-se umas carquejas, fazia-se um molhinho e atava-se no pau com o baraço para varrer as brasas do forno para não se pegarem à broa.

E outra coisa de puxar as brasas, é uma coisa em ferro e depois leva assim um pau, chama-se um rodo. E de pôr a broa é a pá. Assim uma coisa redonda enfiada também num pau, põe-se ali a broa, é a pá. Mas havia muitos nomes. Havia assim muita coisa.

Aqueles nomes ainda hoje vingam. Os da pá, do vassouro e do rodo ainda hoje vingam. Porque embora sejam as padarias que fazem o pão mas ainda há pessoas que tem fornos. Eu tenho isso tudo. Tenho as ferramentas para quando eu preciso de acender o forno.