As cartas

O carteiro, naquela altura, vinha primeiro a cavalo, depois numa mota e agora é de carro, os tempos evoluíram. Vivi cá sempre desde pequena, e gosto de viver no Monte Frio. Fiz aqui a minha escola, tinha aqui amigos. Depois com o estabelecimento mais amigos tinha, as pessoas eram todas minhas amigas. Eram tempos em que as pessoas eram diferentes de agora. Eu fazia as cartas para as pessoas, porque poucas pessoas sabiam ler, para Lisboa, para as pessoas de família. Não havia dinheiro para o telefone. As pessoas não falavam tanto como agora. Havia menos dinheiro e escreviam cartas. Lia-as quando elas chegavam e escrevia-as quando eram para ir. Elas diziam e eu tinha que compor porque às vezes aquilo era assim muito mal. Cartas de amor não fiz assim muitas. Fazia mais para as pessoas velhotas, para as famílias.