“Tudo lavado à mão”

Antigamente, não havia máquina de lavar roupa, era tudo lavado à mão no lavadouro. Não havia máquinas como há agora. Agora mete-se na máquina e ela lava e a gente só estende e engoma.

O lavadouro era do povo todo. Ninguém tinha máquina então iam todos lavar. Tinha-se que ir lavar aos tanques. Nem sempre estavam todas porque às vezes estava uma, lavava e ia-se embora, vinha outra e assim. Tínhamos dois lavadouros. Um era ao fundo do povo que é o melhor, foi feito mesmo próprio para lavadouro. Depois a gente levava uns alguidares e cada uma tinha o seu estendal já na sua casa. Depois começaram a vir os tanques individuais. Cada um comprava um para casa, para lavarmos a nossa roupa. Também tenho um. E depois começaram a vir as máquinas. Quer dizer, o tempo evolui num instantinho, aquilo foi ver pular o que era antigamente para o que é agora.

Eu sou do tempo em que não havia lixívia, era cloreto. Cloreto era um pó branco que a gente punha na água e esse pó branqueava a roupa. Ou então trazíamos a corar. Lavávamos a roupa, dávamos-lhe sabão, havia uns bocadinhos onde havia relva e a gente ia pôr lá a roupa estendida a corar. Tínhamos um regador que regávamos com água. Aquela roupa ficava linda, linda. Outras vezes, quando não estava bom para se corar, punha-se aquele pó.

Chamavam-lhe o cloreto e depois deu em vir a lixívia. É a evolução de uns tempos para os outros. Com a lixívia é mais fácil. Porque o cloreto ficava assim com uma goma e tinha que se passar com mais água. Embora a lixívia tenha que se passar por duas ou três águas mas é mais fácil, é líquido.

O sabão, que hoje se chama azul e branco, era para a roupa e para a gente se lavar. Mas também havia o cor-de-rosa em barras e ainda há. Mas não havia outra coisa, não havia Tide, não havia Omo, não havia nada dessas coisas. Depois é que começaram a vir esses produtos todos que agora é uma beleza. A gente mergulha um bocado a roupa no Omo quando é uma peça ou duas para não lavar que não dá para a máquina, uma esfregadela, está feito. Antigamente não, a gente tinha que molhar a roupa, ensaboá-la com o sabão e esfregar e tornar a pôr sabão e esfregar e era muito difícil. Há pessoas agora que não sabem o que é que foi o trabalho de antigamente, o duro que foi.

Nesse tempo, não havia esfregonas mas a gente podia-se ajoelhar bem para fazer a limpeza. Agora as esfregonas vieram numa altura boa que a gente não pode. A minha casa era em madeira encerada, punha-lhe cera e puxava lustro. Antes disso era esfregada com uma escova, com um balde de água e um sabão amarelo. Eram umas barras que vinham em caixas de madeira, chamava-se o sabão amarelo. Eram umas barras grandes e as pessoas compravam para lavar o chão, as tábuas. Eu vendi bastantes. Ficava amarelinho, amarelinho, esfregado com uma escova. Mas tinha que se andar de joelhos aos bocados. Depois veio a cera.