Zé Augusto e Zé Maria

O tio Zé Augusto era um que dava remédios à gente. Já morreu, esse homem. Havia cá um Zé Maria, que também era como um médico. O que dissesse o médico, o Zé Maria já o tinha dito. Era entendido. Era atilado. Não era muito limpo. As ferramentas eram assim um bocadito enferrujadas. O outro lá além, o tio Zé Augusto, isso era tudo limpinho, tudo arranjadinho. Era muito asseado. Agora, o tio Zé Maria, qualquer coisa servia Era de qualquer maneira. Mas tinha sorte com os curativos.

Eu tive uma doença quando era pequenita, uma doença grande. A minha mãe levou-me lá, ao colo, ao tio Zé Maria. Ele disse assim:

- “Olhe, dê-lhe só leite e caldos. Mas dê-lhe mais leite do que caldos.”

O leite, não provei. Escusavam de me dar leite que eu não o bebia. Só bebia os caldos. E ainda aqui estou. Matáramos sete cabeças, mas só bebia os caldos. A carne não ma davam que eu não podia comer e, por Deus, escapei. A minha mãe levou-me lá também ao médico. Disse-me a mesma coisa que disse o Zé Maria. O Zé Maria disse:

- “Dê-lhe mais leite do que caldos.”

E o médico disse assim:

- “Dê-lhe mais leite do que caldos.”

Tudo igual!

Uma vez, uma mulher caiu lá abaixo, chamamos lá ao Castelo. Caiu numas “barranceiras” “pia baixo”. Se fosse agora, vinha logo uma ambulância para levar para o médico. O Zé Maria não a mandou para o médico. Levou-a para lá para a casa dele e tratou dela. Daí a pouco tempo a mulher estava sarada.

O Zé Maria tinha um criado, que lhe roubou pólvora. Ele tinha lá pólvora a vender. Iam minar penedas e fazer uns buracos para quando faziam as casas e precisavam daquelas pedreiras. Depois punha-lhe pó, punha-lhe fogo, aquilo rebentava e abria aquelas pedreiras. O ladrão do criado, rouba-lhe a pólvora e põe-a no bolso das calças. À noite, foi para uma debulha. Assentados no chão a malhar, malhavam com o milho entre as pernas com um pau pequeno assim, “truca”, “truca”, “truca”. Claro, aquilo foi indo, foi indo, foi aquecendo e incendiou-se lume a ele, ao criado, ao rapazito. Estava lá um, que chamavam Joaquim Lavrador - nem era de cá, mas estava lá -, avassalou-o com uma manta, porque senão ele morria queimado. Como tinha a pólvora no bolso, ficou-lhe as virilhas queimadas. Ora, aquilo estava muito ruim para curar. Ele estava embrulhado num lençol branquinho, branquinho. Não o podiam vestir nem despir. Mas ele andou, andou, curou-se e pôs-se bom.