Do Carnaval ao Natal “são recordações que a gente recorda toda a vida”

Pelo Carnaval ainda me lembro que, às vezes, mascaravam-se. Nos bailes do Carnaval as pessoas punham qualquer coisa e disfarçavam-se. A gente não os conhecia, “quem será aquele? quem não será aquele?”. Havia pessoas que ainda se divertiam com isso.

O Natal é o tradicional. Quando éramos miúdos não havia prendas, não havia Pai Natal, nem sonhávamos com isso. Os miúdos cantavam as Janeiras sempre ao dia 1. Eu lembro-me de ir à porta das pessoas, não era bem cantar, pedíamos as Janeiras. Normalmente as pessoas que tinham mais, que tinham o porco todo o ano faziam umas chouriças mais pequeninas, em vez daquela chouriça normal. Já as faziam mais pequeninas para se dar nesse dia. Nós íamos pedir as Janeiras e as pessoas davam-nos umas chouricinhas daquelas. Davam sempre uma chouriça de carne, uma farinheirazita ou uma morcela. Nós andávamos com um saquito de pano na mão, porque não havia sacos plásticos nessa altura, e era assim. Era uma alegria levar aquilo para casa. Pelo menos as pessoas mais pobres, não era só a minha casa mas mais umas três ou quatro que havia por aí, aquilo chegava a casa, uma chouricinha na sopa era muito bom. Também íamos pedir os Reis. Havia a taberna e as pessoas às vezes até compravam uns rebuçaditos para nos darem. Normalmente, era uns rebuçaditos mas também tinha uns bolos rijos dos sortidos que as tabernas tinham e era assim. Essas são recordações que a gente guarda toda a vida.