“O Santa Comba”

As festas em honra do Milagroso Bom Jesus e da Senhora da Boa Viagem são sempre em Agosto. Antigamente era sempre o dia 6 de Agosto, fosse à segunda-feira, fosse ao sábado, fosse ao domingo, o que fosse. Agora mudam sempre para o segundo sábado de Agosto, mais ou menos é agora o que têm feito. Este ano que passou não se fez a festa religiosa. Para o ano com certeza vão fazer, mas esta tradição está a acabar e para as pessoas que vivem no Monte Frio está a custar um bocadinho. Fica muito dispendiosa e já não há pessoas que queiram porque já não conseguem atingir os gastos, nem com pedidos, nem com publicidade. Mas antigamente a festa era muito tradicional. As pessoas começavam a preparar a festa dois a três dias antes, que era para matar a rês e fazer a chanfana. Vinha um matadouro, matava e esfolava. Isto para quem tinha gado. Quem não tinha, às vezes, comprava aqui e acolá. Faziam-se os doces como a tigelada, o arroz-doce, os coscoréis.

Depois vinha gente de Lisboa. Alguns vinham de carro mas era muito raro. Não há muitos anos, vinha tudo no autocarro, passar aqui o mês de férias. Havia um autocarro que a gente chamava o “Santa Comba” porque era diário aqui com ligação a Santa Comba Dão, ao comboio. Então ia e vinha. Depois as pessoas vinham no comboio para Santa Comba Dão e deslocavam-se assim para o Monte Frio. Quando eu era miúdo não havia praticamente ninguém que viesse de carro, era tudo nesse autocarro. Estavam aqui aos 15 dias. Quem tinha um mês, estava um mês. Depois as famílias eram numerosas, havia sempre muita gente em casa. No dia da festa vinha a música. Foi quase sempre a de Avô. Nessa altura, ainda não tinham autocarro, vinham a pé de Avô. Saíam de madrugada, a pé com os instrumentos às costas, para começarem no Monte Frio às oito horas a darem as voltas às ruas. Depois faziam a procissão, tocavam durante a tarde e durante a noite. À meia-noite iam-se embora. A pé pelos atalhos fora. Havia sempre quem tocasse um acordeão, uma concertina e faziam ruadas. Andavam de casa em casa de madrugada a beberem e a petiscarem. Depois começou a modernizar. Ao início, o chamado arraial, era feito pela filarmónica, depois começaram a aparecer os conjuntos e começou a filarmónica a ficar só até às sete horas e fica um conjunto a tocar depois das dez horas. São sempre dois a três dias nesta diversão. Os anos correm e isto está a morrer.