À luz do carbureto

Antigamente faziam-se muitos bailes, com muitas pessoas, muitos rapazes e raparigas, 10 a 15 anos mais velhos que eu. Alguns ainda hoje estão vivos outros já morreram. O meu pai ainda chegou a tocar guitarra e gaita de beiços. Tocava sempre a mesma moda mas lá animava aquela gente. Havia sempre divertimento. Como a gente diz, havia muita mocidade. Faziam-se aí uns bailaricos mas eu nunca aprendi a dançar.

Faziam-se nos chamados palheiros, com uma luz de candeeiro a petróleo ou a carbureto. O carbureto era uma pedra que havia, que fazia combustão. Esse candeeiro era em metal forte. Não sei se seria antimónio, se era aço inoxidável. Tinha duas partes, uma onde se punha o carbureto e outra onde se punha água. Era bem apertado e tinha um bico que quando se abria libertava um gás. Às vezes era preciso andar a desentupir os bicos. Ora, o carbureto ia-se dissolvendo com a água e produzia o gás. Acendia-se na ponta e aquilo estava logo a dar luz. Era o que antigamente usavam nas minas porque não se apagava. Não havia pilhas e muito menos capacetes com pilhas. Só mais tarde veio o tal Petromax. Era a petróleo, tinha uma camisinha com uma chaminé e isso dava já uma luz que era um espectáculo. Isso já se usava aqui nas festas. Pendurava-se nos mastros e já se via toda a noite. Antigamente, no dia da festa, a música estava a tocar até à meia-noite. Para verem os papéis tinha de se pôr lá qualquer luz para verem senão tocavam de cor.