Um atirador bem tratado

Fui para a tropa em Coimbra, no 12. Assentei praça em 1950 e saí no dia 27 de Janeiro de 1951. Só lá estive 10 meses, porque naquela altura levava um número alto. Tive a sorte de ser o 265. Quando fui à inspecção pesava 50 quilos. Andei dois meses na ginástica especial, mas assim que saí da tropa comecei a engordar. Era bem tratado, melhor do que sou hoje. Também era bem mandado. Era primeiro atirador especial. Mandava um tiro para ali e acertava para lá...

Quando saí lá do quartel de Coimbra, venho para Santa Comba Dão. O comboio era às duas horas da manhã. Estava um frio que eu sei lá e só tinha a camioneta para o Monte Frio às duas horas da tarde. Quando chega a camioneta, vou lá para dentro e passo pelas brasas. Chegámos ali à Fonte dos Rios, parece que alegrou o tempo e eu ponho-me ao caminho. A camioneta chegava às seis horas, já era praticamente noite. Começa então a chover, a chover, a chover... Era água por todos os lados! Molhei-me como um pito, todo molhadinho! Chego lá em cima à serra, há ali umas casas que eram de uns guardas da floresta. Bato a uma porta e nada. Vou por ali abaixo, sei lá por onde é que eu fui, se fui pelo ar, se fui pelo chão. Chego a casa e os meus pais, já estavam arreliados, porque sabiam que eu estava para chegar um dia antes. Lá se levantaram, foram acender lume, fizeram-me café e deram-me aguardente. Estive oito dias de cama, oito dias mal. Tive um tio que ainda me foi lá ver. Chorava de roda de mim e disse:

- “Oh Américo! Ficavas lá no Monte Frio...”

E ficava! Se um lobo se encostasse a mim... Eu sei porque cheguei a expulsar muitos para aí. Pronto, daí a uns dias eu melhorei.