Ganchos, bolos e coelhos

Antigamente eu tinha duas trancitas agarradas, com muito gancho, com medo que elas me caíssem, e uma outra patroa minha disse-me que eu que lhe tinha roubado os ganchos. Caiu-me aquilo tão mal, não estive com mais coisas, vim-me logo embora para casa da minha tia! Mas depois arranjava logo trabalho. Ainda era miúda. Depois lá vinham:

- “Olhe a sua sobrinha que vá lá a cima, que há lá uma senhora que quer.”

Lá ia eu.

Uma vez fui para casa de uma, comi tanta clara, que eu já nem podia ver as claras. Ainda hoje não gosto muito. Eles faziam os bolos só com as gemas. Nem era sempre aquele pastelão. Faziam os bolos e metiam num armário na sala de jantar. Um dia quando ela me manda ir pôr a mesa, levava um tabuleiro com os copos, os talheres e o jarro. Mas ela tinha naquele armário os bolos e eu queria comê-los. Primeiro pousava o tabuleiro, mexia os talheres para fazerem barulho, que era para a outra mão ir ao armário tirar os bolos. Quando já tinha a boca cheia, cai-me o tabuleiro, parti tudo! Vim logo despedida! Devia ter aí os meus 17 anos.

- “Então donde é que tu vens a esta hora?”

- Venho de casa da minha patroa! Ela disse que eu que não prestava

Menti à minha tia!

- Ela disse que eu não sabia fazer nada e mandou-me embora!

A minha prima Palmira, já morreu, foi lá saber o que é que se tinha passado. E diz ela assim:

- “Ai minha senhora! Ela não lhe contou?”

- “Não!”

- “Então partiu-me uma quantidade de louça.”

Descontou-me o dinheiro nos copos que eu parti todos. Levei só aquele dinheiro para a minha tia. Quando ela descobriu levei logo uma chapadona que até bati com a cabeça na parede!

Já em casa de outra senhora assei um coelho com olhos e tudo. O meu patrão era da Marinha. E ele assim:

- “Ó Fernanda traz-me aí uns óculos.”

Ai, fiquei tão arreliada. Eu disse:

- Para quê?

- “Para a pôr ali ao coelho, que ele não tem vista.”

Não tirei os olhos ao coelho, assei-o assim!