“Marcávamos e eu lá ia numa fugida”

Eu nunca namorei mais ninguém, que não o meu marido! Começámos a namorar nos bailes, nos bailaricos, depois encontrávamo-nos e falávamos. Mas ele era muito mulherengo e nunca tinha assente. A minha tia quando soube que namorávamos não queria. Nunca namorei assim com ele sossegado. Às vezes, marcávamos e eu lá ia numa fugida para um lado e para o outro num bocadinho, para falarmos. Uma vez, fui provar um vestido. Ele disse à minha prima Palmira:

- “Olha, ela vai aí, vai provar um vestido.”

Era o dia da minha saída. De 15 em 15 dias saía. Ia para casa da minha tia, mas eu disse à minha tia que ia provar o vestido, como fui. Eu chego lá e ele diz-me assim:

- “Oh, que é que a gente está aqui a fazer? Podíamos ir até ali a casa duma tia que eu tenho ali.”

E eu disse:

- Eu não vou. Eu não vou para lado nenhum. Nem para tia nem para tios. Vou provar o vestido, depois tenho que lá ir a casa. A minha tia depois começa-me a matar a cabeça!

Ele não faz mais nada.

- “Então, se não queres, arranja a tua vida que eu arranjo a minha!”

E vira-me as costas! Ai, chorei tanto, tanto! Ainda fui provar o vestido e depois era a minha prima:

- “Que é que tu tens hoje? Tu não estás boa.”

- Não tenho nada. Foi a minha tia.

Mas nada de dizer. Venho-me embora e entrei em casa da minha tia.

- “Então já lá foste provar o vestido?”

- Já.

Vim-me embora! Nada de dizer à minha tia o que me tinha acontecido. Noutro dia diz-me a minha prima:

- “Olha que o Luciano quer falar contigo.”

- Agora como é que eu vou fazer isto?

Depois lá marquei. Foi uma quinta-feira, era a folga dele. Lá fôramos para a porta da Igreja de Santa Engrácia. Eu era menor, tinha 21 anos e não tinha ninguém que me ajudasse... Eu não era capaz de escrever para ele porque não sabia escrever e também não ia pedir. Depois falei com ele e ele disse:

- “Vamos casar!”

E eu disse:

- Então mas agora como é que eu vou casar se eu sou menor?