Melâncias, porcos e galinhas

A relação com os meus irmãos era engraçada. Quando eu lhes podia bater, batia-lhes, porque eles faziam queixa à minha mãe do que eu fazia! Uma vez tinha um cado à porta e umas melâncias. E a minha mãe, que andava a semear feijão, disse-me assim:

- “Ó Fernanda, vai lá a casa e traz-me as tigelas que é para se ordenhar aqui as cabras, para a gente comer.”

Eu vou para lá e levava pão para comermos que aquilo era bom, e vou muito quietinha, mas já levava a minha fisgada! Havia umas malas antigas de enxoval, com folhas por fora. Uma das folhas estava partida e eu passo por aquela mala, e corto uma perna. Ainda tenho o buraco. Tiro um lenço, que levava na cabeça, e amarrei a perna muito bem amarradinha, para não deitar muito sangue. Para onde é que eu havia de ir? Arrancar uma melancia, nem estava madura nem nada. Não pude comê-la e fui pô-la ao porco. Cheguei à beira da minha mãe e disse-lhe:

- Olhe desarranjei uma perna!

- “Olha p'ra esta rapariga! Ai, meu Deus! Esta rapariga só faz assim estas coisas.”

À noite viéramos para casa. A minha mãe tratou-me da perna e o meu pai vai lá às melâncias e não as vê! Diz ele assim:

- “Ouve lá! Tu vieste aqui às melâncias?”

- Eu não! Não fui.

- “Então, quem é que vinha aqui às melâncias?”

A minha mãe vai para pôr o comer ao porco, e o porco não tinha comido as melâncias, estavam lá as cascas! Eu quando vejo o meu pai a vir direito a mim, só tive tempo de subir umas escadas, para umas terras. Já não vim para casa com medo dele. Começa a anoitecer e eu com muito medo. Disse o meu pai para a minha mãe:

- “Se vocês lhe abrirem a porta, vocês vão ver...”

Lembro-me que estava uma lua bonita. Eu olhava para um lado, olhava para o outro e havia lá um galinheiro ao lado da casa. Não fiz mais nada, empurro as galinhas para um lado e meti-me lá. De manhã, a minha mãe diz para a minha irmã:

- “Ó Zulmira, vai abrir a porta à tua irmã.”

Que era uma tranca por dentro, de um canto ao outro.

- “Ela tem que ir daí ao pai. Ele dá-lhe uma tareia que não queiras saber!”

Eu ouvi aquilo, meto-me naquela porcaria das galinhas. Apanhei uma infecção nas minhas pernas ... Quando entrei em casa onde eu pus os pés era só pegadas das porcarias das galinhas! Fui-me meter na cama, ao pé da Maria Arlinda, que era a mais nova. De manhã, diz assim a minha mãe:

- “Fernanda! Levanta-te para ires ao mato. Olha o teu pai!”

O meu vai para me dar com o cinto, porque eu era teimosa. Era ele assim:

- “Ó Maria, anda cá! Então a tua filha está toda borrada? Então mas o que é que se passa aqui nesta cama?”

Eu tinha-me metido assim na cama. Éramos pobres mas assim de porcaria não dormíamos. Mas naquele dia com medo do meu pai. Mas mesmo assim apanhei uma tareia, que me consolei!