Poemas e tradições

Eu sabia coisas. Já não sei com quem aprendi, já foi há muitos anos. Com certeza ainda era novita, porque não me lembro com quem aprendi.

“Que tens tu, ó soldadinho, que andas tão triste na guerra?
Ou te lembra pai ou mãe, ou a gente de tua terra.
Nem me lembra pai nem mãe nem gente da minha terra
Só me lembro uma amada, que era linda e donzela.
Se a quiseres ir ver, sete meses te darei,
Mas depois dos sete meses, soldadinho serve o rei.
Sem tal palavra ouvir, meu cavalo aparelhei.
À saída da cidade, o Demónio encontrei.
Para onde vais, ó soldadinho?
Por onde vais agora aqui?
Eu vou ver a minha amada, já há muito que a não vi.
Tua amada já é morta e é morta que eu bem a vi
E o traje que ela levava eu te explico a ti:
A saia era de seda, a coroa de marfim,
O caixão era tão lindo, que eu mais lindo nunca vi.
Seja o que Deus quiser, adiante sempre vou.
Lá no meio do caminho, meu cavalo se espantou.
Não te espantes, ó cavalo, não te espantes agora aqui.
Sou a amada do teu dono, algum tempo te servi.
Se tu és a minha amada, dá-me os beijos que eu te dei.
Os beijos que tu me deste não os tenho agora aqui.
Está-os a terra comendo para séculos sem fim.
Se te chegares a casar, vai casar a Bandolim
Com uma menina donzela, que se chame como a mim.
Se algum dia tiveres filhas, trá-las diante de ti
Para não se perderem por homens como eu me perdi por ti...”

É bonito ou não é bonito? Isto é bonito! Sei outra mais pequenita, que é assim:

“Existe uma capelinha
Toda de branco caiada,
Onde todos os dias reza
A minha mãe adorada.
Meu pai andava a caçar,
Trazia a arma carregada
E a mesma se disparou
Ferido no coração,
Abraçado ao fiel ao cão,
Banhado em sangue, expirou.
O cão em doce latido
A minha casa corria.
Minha mãe não entendia
Que o pobre cão lhe dizia:
- O meu bom dono morreu...”

O cão é que foi anunciar à dona. A ladrar, era como que ia a chorar.

E fiz uma cantiga a um acipreste. No outro dia, disseram que se estragou. Foi-se abaixo o acipreste. O que lá havia ao Pau era só aquele. Já tinha muitos anos, muitos anos. Eu, um dia, pus-me assim a pensar e fiz esta cantiguinha e a rima como ele era, que ele era assim:

“Acipreste verde e triste,
Cópia da minha figura.
Verde qual minha esperança,
Triste qual minha ventura”

Que o acipreste é ramalhudo, mas não é uma ramagem alegre. É uma ramagem escura. Tem muita rama. É como um pinheiro. O pinheiro tem pinhas e tem carumas, mas ali aquele não. Era macio, mas tinha aquela ramada grande, escura. Não era uma coisa clara. Como era a ramada escura, eu assim:

- Vou fazer uma cantiga ao acipreste.

E fiz a cantiga. E está bem!