“Aquilo sabia tão bem...”

Eu fui à Benfeita, descalço, muita vez buscar o correio! A pisar ouriços e gelo pela Mata da Margaraça fora. Descalço! Saía dali dos Pardieiros, ia à Relva Velha e depois vinha para aqui. De pequeno! Depois, andaram também uns irmãos meus a fazer isso e mais uma rapariga que servia aí. Ganhava 5 tostões por ir à Benfeita e voltar. Chegava lá, às vezes, tarde. Depois, saía de lá já de noite por aí acima. Tinha que se lá ir todos os dias. Houvesse ou não houvesse correio, tinha que se lá ir sempre. Não havia aqui telefone para avisar! Havia aí algum telefone? E, aqui, distribuía-se porta a porta. Lá por lá, um dava qualquer coisita, outro dava qualquer coisita... Às vezes, quando passava nos Pardieiros, pediam-me:

- “Ó, Luciano, faz lá este jeito...”

Eu lá fazia o jeitito e davam-me 5 ou 10 tostões. Quando chegava à Benfeita, comprava um pãozito... Metia aquilo debaixo do braço, sabia tão bem... Sabia a doce por aí fora nesse caminho.