“Para que é que dizem que está mau?”

A agricultura hoje em dia é meia dúzia de casas que aí há. Umas já não podem, outras também não querem. Diz que compram mais barato. O pessoal, os ordenados estão muito caros. E eu acho bem, porque quem vai daqui para fora também é para o ganhar. Há muita gente que já nem semeia. É pena, eu ainda gostava de semear. Antigamente comiam todo o ano da fazenda, pode-se dizer. Era as batatas, o feijão, as cebolas. E agora não. Quando era pela festa ou matavam do curral ou compravam um bocado de carne de cabrito, e matavam-se porcos. Havia casas que matavam dois porcos. Faziam enchido, tinham fartura dessas coisas. Agora ninguém quer criar porcos. Há ali um talho vão lá buscar. E para que é que dizem que está mau? Antigamente era preciso a gente cultivar e tratar o porco, tratar o gado para ter um cabrito. E agora não. Vão ali ao talho, compram e andou. E chega para tudo.

As castanhas eram cozidas. Secavam, depois eram pisadas dentro de um cesto próprio, tinha assim aquelas fendas e saía as cascas por ali e as castanhas ficavam lá dentro. Aquelas castanhas eram as piladas. Depois aquilo era bom para comer. Outros faziam caldo de castanhas. E outras coziam-nas de verde ou assadas no assador. Aproveitavam tudo e assim viviam. Sem andar a comprar sempre nas mercearias.