“Era uma escola até bem boa”

Ainda cheguei a ir à escola na parte do Inverno. Mas quando cheguei a Fevereiro, já Março, acabou-se a escola porque eu tinha que trabalhar. Tinha que ajudar os pais na fazenda. Os meus irmãos, o Alfredo e o Alberto, tiraram a quarta classe e o Zé também a teve no Sardal, mas as minhas irmãs fizeram só a terceira. Eu, como era a mais nova, já não fiz. Tinha que ajudar mais. Só aprendi o á-é-i-ó-u, as primeiras letras, a juntar e a fazer o nome. Assino um pouco mal, mas sei. Os meus irmãos iam-me dando umas luzezitas, mas depois foram para Lisboa. Ficámos só as raparigas.

A minha escola era no Monte Frio, onde é agora o campo da bola. Fizeram-no quando a escola caiu. Mas ainda ficava longito. Quando estava a chover muito, a gente apanhava com aquela chuva e encharcava-se toda. Era o vento e a chuva, tudo misturado. A gente parecia que até via lume! Era uma escola até bem boa! Era grande, cabiam lá muitos alunos. Nessa altura, os miúdos do Enxudro, da Relva Velha, das Casarias, do Valado e do Monte Frio juntavam-se todos naquela escola. Mas depois, já se sabe, começaram a casar e a ir para Lisboa... Tudo se foi embora para um lado e para o outro e a escola ficou sem alunos.

Andei com duas professoras: uma era Justina e a outra era Ofélia. Elas não eram más, só que a Justina era muito nervosa e, quando não se faziam as coisas lá ao jeito dela, a gente tinha que aprender à força! Havia cá uma rapariga que, coitadinha, não sabia a tabuada. A professora mandava-a ao quadro e tumba, tumba, tumba! Levava com uma vara nas costas que ainda hoje me dói! Aquilo ficou-me cá metido de tal maneira, que eu, ainda hoje, quando me lembro disto, tenho pena da rapariga. Não gostava de ver aquilo. Mesmo assim, ela fez a quarta classe e eu tive que sair. Gostava de lá andar. Eles brincavam todos lá na escola uns com os outros.