Festa do Milagroso Bom Jesus

A festa era sempre bonita! Era a festa do nosso Milagroso, o Milagroso Bom Jesus. Havia dois mordomos, dois casais, que pediam o dinheirinho para a festa. Iam dar a volta ao povo. Um dava uma coisa, outro dava outra e depois faziam a festa. Vinha a música, saía a procissão com os andores, os santinhos, iam para cima, davam a volta à povoação e depois tornavam para baixo, para a capela. O dia da festa era dos nossos pais. Mandavam-nos fazer à costureira uma roupinha bonita, que naquela altura era o que se usava e a gente gostava. Eu pedia ao meu pai se ia a missa e daí íamos à procissão.

À noite, era o arraial! Era comer e beber. Havia fogo-de-artifício e depois a música. Na altura, não havia conjuntos. Era só o som da concertina e da guitarra. Mas a concertina não era de cá. Era de uma outra terra aqui ao lado. Tinham que tirar um dinheiro da festa, do que tinham pedido, para a pagar. Era bonito, porque depois havia o bailarico. Eu não, que era miúda, mas as raparigas que já eram crescidas faziam bons bailaricos. Dançavam e cantavam! O meu pai não nos deixava ir. Como tínhamos a fazenda, não nos dava tempo de irmos para os bailaricos. Eu tinha pena, mas as minhas irmãs ainda tinham mais, porque eram as duas mais ou menos chegadas. Mas pronto, a gente criou-se assim.