“Teve de pedir dinheiro emprestado para se casar”

A gente casou-se há 53 anos na capela do Monte Frio. Casei-me nova. Tinha 19 anos. Ele só tem mais dois anos que eu. Nesse dia estava nevoeiro e a chover, mas ainda levámos muita gente, convidados e família. As minhas irmãs vieram de Lisboa e ajudaram-me. Uma costureira, que já morreu há muitos anos, é que me fez o vestido. Era branco. Um vestido comprido até aos pés com um veuzinho. O meu marido, que já estava em Lisboa, ia com um fato claro, mas não era de luxo. Era calça, casaco e camisa branca.

A nossa vida foi sempre muito dura. Se ele teve de pedir dinheiro emprestado para se casar, depois teve de pedir dinheiro para fazer o funeral à mãe. Eu casei-me em Fevereiro e ela, coitadinha, que era muito minha amiga também, morreu a 20 de Março. O meu marido estava sem dinheiro.

Casáramos e ficáramos aqui ainda uns meses. Depois, ele foi para Lisboa, para a tropa. Enquanto o meu marido não teve cá os papéis da terra dele, não o chamaram para a tropa. Depois, quando a gente tratou da papelada para o casamento e tudo, é que o chamaram. Ele teve que ir. Andou lá dois anos. Era chofer de um general.

Depois de sair da tropa, arranjou para taxista. Trabalhou sempre no táxi para ganhar dinheiro, que a gente cá não tinha. Eu fiquei no Monte Frio e só mais tarde, depois de ele lá organizar melhor as coisas, é que fui.