“A arte de colchoeiro”

Migrei para Lisboa com 16 e lá fiz a minha vida. A primeira vez fui para uma casa limpar móveis e acartar com móveis às costas, ganhar 5 escudos por dia. Depois é que respondi a um anúncio e fui aprender a arte de colchoeiro. Ganhava 8 escudos.

Tinha lá um colchoeiro mas não me queria ensinar a arte. Só me fazia abrir a palha para os colchões. Nem a boca nos colchões me deixava coser para eu não aprender. Eu gostava de ver e de aprender. Então, abria a palha e quando o colchoeiro começava a encher os colchões, aquilo era num sótão, mandava-me cá para baixo:

- “Vai lá para baixo!”

Era para eu não ver e aprender a arte. Depois mudei daquele serviço então para outro. Para outra casa que foi para a Rua dos Anjos. Nessa aí é que o patrão começou a dizer ao colchoeiro:

- “Ensina aí o Arlindo a coser as bocas nuns colchões.”

Então comecei a coser. Depois comecei a ver como é se faziam os colchões e mais tarde até aprendi a coser à máquina.