“Depois era eu que chorava”

O rapaz foi naquela fase de ir para os táxis, depois ir para as camionetas, e das camionetas para os táxis, e dos táxis outra vez para as camionetas. Acontece que foi feito na Venda Nova e veio nascer no Monte Frio. Quando foi do filho andei no médico. Mas ele coitado, da idade já não sabia da coisa e como já se estava a passar o tempo e ele não nascia, mandou recado:

- “O melhor é ele ir para outro médico (que era o doutor Parente dos Santos) que o miúdo está assim, está assado”.

O que é que eu faço? Ela estava a sentir-se um bocado mal. Chamei esse médico primeiro, através da senhora dona Assunção Peres, e o médico veio a casa e disse:

- “Para já ainda não mas se sentir alguns sintomas ou alguma coisa mandem-me chamar” - que ele morava em Arganil.

De noite ela sentiu-se mal. Eu nessa altura não tinha carro, andava a fazer a carreira. Lá vou ter com a dona Assunção Peres que lá me emprestou o carro que ela tinha e vou eu chamá-lo. Eram duas da manhã estava eu a bater-lhe à porta. O homenzinho aparece aqui por volta das cinco, seis horas e disse:

-“Ainda vim um bocadito cedo demais, havia de vir por volta das dez horas”.

Foi à hora que ele nasceu. Mas também fui o parteiro. Ele nasceu à base de ventosa. Era eu a dar à bomba da bicicleta, a dar com a ventosa num casco, ela a puxar. “Ai” gritava por um lado, “ai” gritava por outro. A minha sogra e as minhas tias, que ainda eram vivas, na sala a chorar e eu a ralhar com elas por estarem a gritar. E eu com coragem pfu pfu pfu. Ela a gemer agarrada à cama. Depois, ela já sabia que tinha a filha, quando está a sair cá para fora era eu que chorava de alegria. Tinha uma filha e veio um rapaz. Depois era eu que chorava, não era ela.