A Benfeita antigamente

De onde vem Benfeita, de onde vem “Balseiros”, de onde vem “Casaquinhas”, de onde vêm “Ralhadores”, de onde vêm “Caiados”, de onde é que vêm não sei quantos ainda ninguém me explicou, pelo menos convincentemente de maneira que não me atrevo a dizer que uma história é a mais correcta.

Os “Ralhadores” são de Pardieiros, os “Caiados” são das Luadas, os “Casaquinhas” são do Sardal, os de Monte Frio são “Negritos”, os de Enxudro são “Cavaleiros”, de Pai das Donas são “Verrumões”, os da Dreia são “Roupa-Lavada”, os de Deflores são “Espicha-Sapos” e os da Benfeita, “Balseiros”.

Lembro, vagamente a Benfeita de antigamente. Mas é difícil de descrever. Havia mais gente, muito mais. Hoje está envelhecido, está desertificado, não sei qual será o futuro da Benfeita.

Antes de ir para África já havia luz. A luz veio para aqui em 1952/1953 não me recordo exactamente. Antes da luz viam como os gatos. Os gatos andam aí na rua e vêem, é o hábito. Era com aqueles candeeiros de petróleo, uns petromax mas era um luxo. Havia outros de azeite, velas, enfim, remediávamos.

Não havia água nas casas. Até havia pouca para fontanários. Os fontanários da Benfeita foram construídos na década de 50. Iam longe para buscá-la, com uns cântaros de barro. As raparigas traziam aquilo à cabeça, nós às vezes atirávamos com eles abaixo.

Era nessa altura que aproveitávamos para estar um bocadinho com elas.

Havia dois lagares. Um numa ponta e outro junto à fonte.

Fornos havia. Havia um, não era bem comunitário. E havia vários privados que ainda hoje existem alguns. Havia aí uma senhora que tomava conta de aquecer o forno, não sei bem como é que isso funciona que nunca me dediquei à exploração desse sistema.

Quando estavam doentes chamavam o médico que tinha residência em Côja. Havia dois médicos em Côja, nesse tempo, mas ainda havia duas pessoas, na Benfeita, que também ajudavam a curar. Um era José Maria da Fonseca e outro José Augusto Martins.

Lembro-me que havia uns ranchos, antes de eu ir para África, na década de 40.

Para comermos peixe vinham, como vêem ainda hoje, peixeiros vender peixe. No meu tempo havia um peixe para cada um. Na minha casa, não havia uma sardinha, havia aquelas que nós quiséssemos comer. Nesse tempo já vinham de carro, outras vezes iam as mulheres, chamávamos nós sardinheiras, que iam às feiras abastecerem-se e depois faziam a distribuição pelas terras, a pé.