“Iludido com outros, foi para Lisboa”

O meu marido tinha uma oficina de ferreiro na Benfeita. Era do meu sogro. Faziam ancinhos, enxadas, aquelas ferramentas e coisas a arranjar e soldar. Mas depois a coisa não dava muito. Não era assim muito, porque havia mais ferreiros noutros lados. Então, o meu marido, lá iludido com outros, foi para Lisboa. Depois mandou-me a mim. Foi antes de irmos para África, mas não me lembra quando foi. Quando eu fui, só tinha o Alfredo - era pequenino - e a minha filha, que é a mais velha. O meu Quim, o mais novo, não era nascido.

Ainda estivéramos um tempo em Lisboa, mas não foi muitos anos. Eu já tinha ido de solteira, mas a vida lá é diferente da aldeia, porque aqui a gente trabalhava, tratava de animais e tudo. E lá não. Tínhamos uma pensão. Ele e mais uns irmãos dele alugaram aquilo. O meu marido estava lá e tínhamos empregadas. Era só para dar comidas. Eu ajudava lá dentro e tomava conta dos filhos.

Mas aquilo depois não deu muito. Então, o meu marido mexeu-se para outro lado. Viéramos para a aldeia e depois ele daqui é que resolveu ir para Lourenço Marques.