“Era da primeira até à quarta classe”

A quarta classe fiz aqui na Benfeita. Era só uma escola. Que eu me lembre era só uma. Quando eu era miúda havia outra escola, mas sempre foi uma escola na Benfeita. Fosse ali ou além era sempre aqui uma escola. O edifício era uma sala grande. Éramos muitos alunos porque era da primeira até à quarta classe. Eram rapazes e raparigas. Era só uma professora para todas as classes. As aulas era assim: a senhora professora mandava fazer um trabalho à segunda classe, mandava fazer um trabalho à terceira. Quer dizer mandava fazer trabalhos separadamente a cada classe. Depois chamava para leitura à quarta classe ou para a leitura à terceira classe, ou para ir ao quadro. Ela tinha que fazer tudo em conjunto, mas cada uma estava a fazer o seu trabalho. Mas éramos muitos. Éramos talvez mais de 40 porque eram as quatro classes. E só tínhamos uma professora e depois a professora mandava as outras que sabiam mais dar tareia às outras que sabiam menos. Era assim.

Depois das aulas ainda ia eu para casa dela para ver se aprendia melhor, para ver se andava mais para a frente porque a minha mãe gostava que eu fosse estudar, mas eu nunca gostei de estudar. Eu andava na escola porque tinha que andar na escola, porque eu nunca, nunca puxei para estudar. Mas graças a Deus a nossa quarta classe é melhor que eu sei lá... Em África diziam que não se acreditavam e mesmo nas Meirinhas onde eu estive ninguém se acreditava que eu só tinha a quarta classe. Eu ia muito além em problemas. Eu não faço contas com os dedos. Eu faço os problemas de cabeça, eu faço as contas de cabeça. Eu não preciso de contar com os dedos. Achavam que eu tinha mais estudos, mas não tinha. Só tenho a quarta classe. Porque também não quis estudar. Foi opção minha não querer estudar.