“É a minha terra”

Nasci aqui na Benfeita e gosto de estar cá. Significa bom. Tenho cá família. Assim chegada, chegada só o meu sobrinho Alfredo. É a pessoa mais chegada que tenho cá. E tenho aí primos e sobrinhos em Lisboa que volta e meia vêm. Eu gosto de cá. É a minha terra.

Vem aí muita gente de Verão. Ai, às vezes é ranchos aí que eu sei lá. Vão visitar muito é lá para cima. Fazem aqueles passeios de xisto ou como é que dizem. Vão ver isto aqui para a serra. Eu não sei o quê. Nunca fui. Eu acho que é só mato. Só vejo mato e caminhos por um lado e por outro. Mas de Verão é muito bonito. Não com o frio. Mas no Verão há sempre muita gente aqui.

Está aqui também uma torre e até chamam o Sino da Paz. Eu não sei explicar bem, mas dizem que deu as badaladas o dia que acabou a guerra. A guerra que houve aqui há anos. Por isso é que chamam o Sino da Paz, porque dá as badaladas todos os anos no dia que acabou a guerra. Não me lembra em que altura é, mas todos os anos dá as badaladas todas, 1620. O meu sobrinho, o Alfredo, esse é que deve saber bem, que anda sempre nestas coisas. E esses é que sabem. Eu não sei explicar bem, já estou muito esquecida. Mas dá as badaladas todas, muitas. A gente ouve. Lá está a tocar, a dar as badaladas.

Chamam a terra da Benfeita. Não sei por que foi que puseram o nome. Aqui fora da terra é que dizem “Balseiros” da Benfeita. Não sei o que é que quer dizer. Porque os balseiros eram uns potes do vinho. Mas eu lembra-me sempre ouvir dizer que chamavam os da Benfeita os “Balseiros”, os de Côja os “Bezerros”, era assim.