Um lar construído aos poucos

A gente foi viver numa casita, mas foi pouco tempo que ele foi logo para África. Eu mandei-o à casa de banho mais depressa para eu me deitar. Mandei-o buscar água, e ele mais que depressa também me virou as costas para se despir, porque quer dizer, era aquela coisa. A gente nunca tinha estado assim um ao pé do outro. Namorávamos, dávamos um beijo, mas ao pé do outro assim não. Era bonito isso. A gente ia com aquela ideia, o que é o que não é, e agora não. Agora já tudo sabe tudo e mais alguma coisa.

Fomos morar para uma casita. Fui para minha casa. Depois a minha mãe arranjou-me a casita muito bem arranjadinha. Tinha uma casa muito jeitosinha. Com coisas simples, coisas baratas. Nada de mobiliários caros que não tinha. Não era nada diferente, mas antigamente quem tinha mais possibilidades comprava mobília de quarto, mobília de sala, essas coisas todas. Eu não. Eu costuma-se dizer, foi arranjada com a prata da casa. O meu marido comprou-me umas cadeiras e uma mesa e tínhamos um guarda-fato. Ajeitamos assim a casinha. A minha sogra mandou-me escolher uma cama. Por acaso essa cama era do senhor embaixador. Do nosso embaixador, doutor Marcelo Matias. Era da casa deles. A minha sogra fazia lá os trabalhos em casa e deu-lhe aquela cama. A gente mandou arranjar a cama. Tinha realmente essa tal cama bonita de ferro. O meu marido fez, que a minha mãe desenhou, uma banca que servia de toucador e tinha um banquinho também feito por ele. Na sala tinha uma mesa que comprámos e tínhamos como carpete uma manta de farrapos no chão e era assim. Tínhamos assim as coisas. Simples, mas giro.

Só tinha um andar. Tinha um quarto e uma sala, uma cozinha e uma marquise. Também já era a cozinha. Já tinha o meu fogão de gás, já tinha essas coisas. Uma casita de banho que não era casa de banho. Tinha um lavatório que levei da minha mãe. Era daqueles lavatórios antigos de esmalte. E um bidé também de esmalte e pronto, lavávamo-nos assim.