“Vim embora, porque gosto da minha terra”

Em 2001, viemos para aqui. Agarrei:

- Quero-me vir embora. Já estou cheio!

Organizou-se a nossa vida. Os filhos ficaram lá. Estão porreiros, pronto. Vim embora, porque gosto da minha terra. Onde nasci. Já em África, tinha a ideia de vir. E vim. Em Lisboa, não estava descansado. Não gostava de lá. Os meus filhos estão-me sempre a dizer:

- “Ó pai, vá...”

Mas eu chego lá, vou para o jardim, estou a fazer o quê? Que é que eu estava a fazer lá na cidade? À espera que a morte viesse, sentado no jardim? Ah! Não fui criado assim. Não estou à espera. Ali sentado no jardim, não conheço ninguém. Não conhecia ninguém. Enquanto trabalhei, pronto, é bom, sem dúvida. A pessoa tem lá trabalhinho e tal. É muito melhor. Mas a pessoa não tem trabalho que é que está ali a fazer? À espera que a morte venha sentada num banco? Não... Não quero saber de Lisboa.