O ciclo do pão na Benfeita

Ao pé da casa do meu avô, havia uma moenda. Aquele moinho era do meu avô antigamente. Foi arranjado agora há poucos anos. Antigamente não era assim. Por dentro era, mas por fora não estava assim. Depois foi vendida aquela casa a um casal que estava aí e agora é uma casa de habitar. Está o moinho em frente. Chamam-no Figueiral. O moinho era nosso até, mas a gente deixou fazer aquilo. Era de todos. Tem lá ainda a mó e tudo de moer. Ele há até quem tenha a chave, que às vezes vai mostrar a pessoas que cá vêm.

Mas antigamente havia moinhos aquém e além. Havia até moleiros que tinham moinhos a moer farinha para fora, para as pessoas. A gente levava lá o milho, dava-se ao moleiro e ele tirava a maquia. Ele moía e dava-o moído, mas depois tirava uma parte para ganhar qualquer coisa.

Então, fazia-se a broa. É boa de fazer. Tenho até a gamela de madeira ainda. Ainda tenho tudo, essas coisas. A farinha vem do moleiro. Peneira-se, por uma peneira, para dentro da vasilha o que a gente quer fazer e depois aquece-se a água e faz-se o fermento. O fermento é do padeiro ou deixavam os migalhos da broa. Agora não, agora é o fermento do padeiro. Mas antigamente a gente limpava a gamela com a massa e guardavam esses migalhos para depois, para a outra vez. Amassava-se com água quente e era o fermento. Agora já ninguém guarda. Depois põe-se o fermento dentro da farinha, a água quente e amassa-se. Não leva mais nada a broa. Quando está lêveda, é que vai ao forno.

Depois era nos fornos. Não tinham todos. Antigamente havia aí um forno e uma senhora que era forneira. E a gente que queria cozer dizia:

- Ai, olhe, eu queria cozer tal dia.

Ela lá arranjava umas tantas e cozíamos. Depois, quando casei, a minha sogra tinha forno e então cozia lá. Mas primeiro era assim. Mas havia muitos fornos. O meu pai tinha. Os meus primos também têm no quintal, mesmo ao pé de casa. Esse ainda coze muito. Quase todas as semanas. Mas já pouca gente coze a broa agora. Vêm aqui uns poucos de padeiros por dia.