Objectos e gestos de outrora

Agora está tudo melhor na aldeia. As casas, tudo. Tudo com casas de banho. Antigamente, não era em todas. Às vezes, era nos quintais a casita de banho.

Quando voltei de África, parece-me que já havia luz nas casas. Já não me lembra, mas julgo que sim. Mas não havia esta luz tão boa como agora. Era com os lampiões e candeeiros na rua. Tinham assim umas portas de vidro. Até eram bonitos, só que havia muito pouco. Na altura das festas, é que tinham aquelas luzes boas para os bailes.

Nessa altura, a gente aquecia-se nas lareiras. E havia escalfetas. Punha-se brasas lá dentro e a gente estava ali com os pés em cima. Também ainda tenho uma. É uma coisinha pequena assim com um arco. Tinha lá dentro uma coisa em folha e punha-se as brasas ali. Agora, também há escalfetas eléctricas. E havia braseiras. Tinha um estrado em madeira, que a gente punha as brasas e tínhamos ali os pés a aquecer.

É como os ferros de engomar. Eu ainda tenho aí velhos, de antigamente. Abria-se o ferro, punham-se umas brasas boas para dentro e passávamos com eles. Era assim que se passava. Dava um trabalhão a roupa. Agora é mais fácil.

Até para lavar é mais fácil. Mas eu gostava de lavar na ribeira como era antigamente. Ai, lavava-se tão bem! Na ribeira, havia aqueles lavadores. E depois a água sempre a correr limpinha. Vinham ali lavar muita gente e a roupa ficava muito bem, porque era tudo à mão. No Inverno era frio. Procurava-se um bocado que estivesse sol. Mas outras iam para o frio, coitadas. Agora não. Agora têm as máquinas, já pouco vão à ribeira. E em casa, havia uns cântaros de barro com uma asa com que a gente ia à fonte buscar água. De barro e de folha também. Quando às vezes havia muita gente em casa, ia-se umas poucas de vezes à fonte. Já havia aquela fonte na praça, perto da capela, já havia assim fontes por aí em vários lados.