“Era muito mais familiar”

A minha mãe criava sempre o porco de ano. Era muito diferente. Criavam-se porcos à maneira. Não era agora com farináceo ou farináceo. Era como os frangos. A minha mãe criou dois perus do catano! Bons perus, 10 quilos cada um! Era muito diferente. Todos os anos se matava o porco. Depois, havia aquela festa com a família. Coziam-se os ossos, faziam bucho e tudo. Era tradição. Quando coziam aquilo, faziam o jantar de família. Íamos todos à mesma festa, para a paródia.

As pessoas ajudavam-se mais, muito mais. Era muito mais familiar. Havia aquelas tradições das matanças dos porcos e aquilo tudo. Hoje, não. Hoje, é tudo mais separado. Em família, era muito diferente, porque havia a tradição. E a matança do porco era uma tradição de conjunto. Em conjunto. Hoje, não há essas coisas, embora haja a família, a gente uns aos outros. É muito diferente do que eu fui criado, claro. Havia sempre aquele jantar de família. Aqui, a gente, por exemplo, ia ao Sardal. Havia festa no Sardal. Havia sempre ali duas ou três pessoas. Íamos lá muita vez beber e comer. Era sempre primos e primos:

- “Ó primo, e tal?”

Havia o jantar no Sardal, havia o jantar nas Luadas. Ali nas Luadas também tinha lá pessoas amigas. Nós íamos lá a casa deles e eles vinham comer a nossa casa. Agora, está nada. Já nem se fala. Muito diferente. Alguma pessoa sepultada, tanta vez vejo, fui lá a casa dele comer e eles vinham comer a minha casa. Davam-se bem com a minha mãe e a minha mãe com eles. Era um tipo familiar. Não eram família, mas era familiar. Primo isto ou primo aquilo... Hoje, o mundo é muito diferente. O povo é muito diferente. Mudou tudo. Havia mais pobreza, mas havia mais humildade. A gente ia para a festa para Caneças. Era uma farra uns com os outros. Era quatro, cinco, seis. Uma farra, tudo. Era só de manhã, pois, é uns copos mais umas iscas, mais... Quando íamos lá para cima ali para a festa para a Senhora das Necessidades, levava tudo o seu cesto cheio de comida, à maneira. Hoje, foge um para cada lado. Muito diferente. Tudo passou. Hoje, já não se vai. Não há nada, já nada do que era. Nada. Já não se encontra aquele convívio, aquela amizade uns com os outros.