“Fugia para brincar”

Quando estive em casa da minha avó, ajudava a tratar dela, a lavá-la, a vesti-la e tudo. Estava mesmo inutilizada e também não estava bem da cabecinha. Depois os meus avós faleceram. Ela faleceu primeiro e o meu avô ainda ficou. Mas eu, quando a minha avó faleceu, vim para casa do meu pai. Ainda não tinha 15 anos. Depois puseram o meu avô às semanas e na semana do meu pai ia eu cuidar do meu avô. Como fui lá criada, ia eu fazer a semana dele.

Trabalhava em casa e no campo. Era sachar milho, semear batatas, ceifar erva para os animais. Tinham cabras, galinhas, porcos, isso tudo. Era uma casa de muita lida. Havia criadas em casa do meu pai e aquelas é que, às vezes, iam com as cabras. Também cheguei a ir com a criada e com as mulheres que, às vezes, andavam lá ao dia ao mato, à erva e tudo. E gostava, porque andava lá fora. Usávamos uma foice que é uma coisinha que tem assim uns dentitos para cortar a erva. É como a roçadoira do mato. É comparado. Mas a foice tem um cabo de pau e a roçadoira não. Às vezes, havia lá pessoas que se cortavam um bocadinho a ceifar erva e assim. Mas fazia-se bem.

Às vezes, diziam para eu estar ao pé da minha avó, mas eu lembra-me que fugia para ao pé das outras, para brincar. Para brincar ou para a paródia. Fazia-se bailes e jogos de roda. Andava-se à roda com todas a darem a mão. Depois fazíamos umas bonecas de trapos com uma agulha a fazer os jeitos de tudo. As pernas era de paus de moitas do mato. Forrávamos aquilo com uns trapitos e era assim que a gente antigamente fazia umas bonecas. Mas, às vezes, davam-me brinquedos. As minhas tias que não estavam cá, quando vinham para casa do meu avô de Verão, traziam-me umas coisinhas boas.