“Água corrente não mata a gente”

Não havia luz nem água em casa. Tínhamos candeeiritos a petróleo, tínhamos candeias do azeite e tínhamos lampiões. Petromax já veio agora mais tarde. Primeiro, eram só lampiões. Candeeiros de vidro em chaminé. Uma chaminezita. E era as nossas luzes. Para nos aquecermos, tínhamos uma fogueira. Na cozinha, com os bancos em volta, fazia-se ali a fogueira e estavam ali em volta. Não havia outro aquecimento. Para cozinhar, era com umas panelas de ferro em volta da fogueira.

Sem água em casa, íamos buscá-la à fonte. Quando lá não íamos, trazíamo-la da fazenda, donde andávamos. Lá dos ribeiros, dos barrocos. Água corrente não mata a gente. E era o que a gente fazia. A fonte chegou a secar algumas três vezes. Agora é que seca mais amiúde, mas primeiro, não. Só quando era os anos muito secos é que secava no Verão. Foi tirada nalgum lugar. Já secou ali em Setembro e rebentou em Janeiro.

Eu já estava casada aquando para lá foi a luz. Foi muito melhor. Ai, isso... A bons costumes, a gente habitua-se mais depressa. Mas os maus, às vezes, também aparecem. É isso. Trouxe muita diferença. E água canalizada, só quando comprei a minha casa, há 45, 46 anos. Só lá tinha a água.