“Andei só até à terceira classe”

Antigamente, quando eu era miúda, havia a escola dos rapazes e a escola das raparigas. A escola dos rapazes era onde é agora a Junta. Só me lembra assim um salão grande e as carteiras lá dentro. E a escola das raparigas era em baixo, perto da igreja. Por a rua do café abaixo, é uma casa que tem assim uma ladeirinha. Ali é que era a escola das raparigas. Agora não, é duma prima minha. Às vezes, vínhamos para a escola dos rapazes também. Fazia-se festas juntas. Eram as récitas e alguns, rapazes e raparigas, iam falar e cantar. Era bonito antigamente. Nessa altura, havia muitas crianças porque vinham da freguesia também. Vinham das Luadas, do Pai das Donas, destas terras aqui vizinhas.

A minha primeira professora era a dona Alice e tive outra que era de Arazede. Ela depois até veio ao meu casamento, mas já não me lembra o nome dela. Ensinavam muito bem as minhas professoras, tanto uma como a outra. Ensinavam à antiga e, às vezes, castigavam um bocadinho. Mas não era muito. Eram boas professoras.

Agora é que eu não me lembra se era às nove, se era às oito que começava a escola. Mas era cedo. Devia ser às oito horas com certeza. Tínhamos cadernos e aquela pedra que chamam lousa. Era naquelas lousas que a gente fazia as contas. Depois ensinavam História, Geografia, mas não me lembra já. Eu também andei só até à terceira classe. Saí por causa da minha avó. Era para estar ao pé dela, porque ela estava cada vez pior. Alguns iam fazer a quarta a Arganil. Mas eu nunca fiz. Tinha aquela prisão também.