Antigamente

Quando alguém ficava doente chamava-se o médico ou ia-se ao médico. O mais prático era ir ao médico, a Côja. Se alguém partisse um braço havia uns cirurgiões na aldeia que encanavam aquilo e não era preciso médico, já não era preciso nada. Um era José Maria e o outro José Augusto Martins. Não eram médicos mas eram entendidos e faziam o serviço melhor que os médicos. E não ficavam aleijados. E agora, às vezes, ficam aleijados. Ligavam o braço e aquilo lá passava. Não davam medicamentos. Quem dava medicamentos era o médico. Também há chás que fazem bem. Até há pessoas que só tomam chás.

Quando uma mulher tinha um filho havia um, que era o José Augusto Martins, que esse assistia a esses partos mas depois é, claro, muitas tinham filhos sem assistências sem nada. Os meus filhos nasceram em casa. A minha esposa teve a ajuda de uma mulher que havia, uma parteira, lá a ajudou. Correu tudo bem.

O correio era feito por um carteiro que vinha distribuir as cartas como ainda hoje vem. Mas também havia pessoas que iam buscar o correio a Côja para a Benfeita. Era uma pessoa que havia que fazia esse serviço, que pagavam. Ia a pé. Ia e vinha a pé. Demorava duas horas daqui para Côja e duas horas de Côja para aqui. Todos os dias lá ia. E uma era a minha avó. Era rija. Chamava-se Rosa Maria. Tinha de ir, chovesse ou nevasse.

Antigamente não havia luz. Era a luz da candeia. Havia a petróleo e havia a azeite, a queimar o azeite. Para andar nas ruas era com uns candeeiros que havia, chamavam um lampião. Água em casa também não havia. Ia-se às fontes buscar. Traziam nuns cântaros. De barro e de folha de zinco. As pessoas gostavam de ir à fonte, para encontrar o pessoal, para falarem. Eu ia pouco à fonte. Era mais as mulheres.

Primeiro a aldeia era Valverde. Mas houve uns senhores que passaram lá em cima numa capela que está ao pé da torre e olharam para ela, que aquilo tem oito esquinas e puseram-se a dizer:

- “Bem feita, bem feita!”

E foi assim que ficou o nome. Foi assim que ficou o nome da Benfeita.

A alcunha das pessoas da Benfeita é Balseiros. Em quase todas as terras há assim um nome.

As pessoas, antigamente, eram mais alegres. Mas parte delas já morreram. Havia ranchos na Benfeita. Era o Rancho dos Manjericos e o Rancho dos Malmequeres. Dançavam na Benfeita e, às vezes, saíam. O melhor era o dos Manjericos.

Foi aqui na Benfeita onde eu nasci e aqui hei-de morrer. Gosto de cá viver. Sempre gostei da minha terra. Eu aconselho as pessoas a virem conhecer a Benfeita. Tem a torre lá em cima de Salazar. Chamam-lhe a Torre Salazar, que é a Torre da Paz. Quando construíram é que era a torre Salazar, depois mudaram-lhe o nome. Quando é no Verão está tudo cheio de gente. Vêm passar umas férias à Benfeita.