O enfermeiro e a parteira da aldeia

Antigamente, não havia médico na aldeia. Tínhamos agora médico! Íamos a Côja ou ele vinha cá. Às vezes, até o José Augusto “Linhaça” dava injecções, dava uns comprimidozinhos para as dores de cabeça, fazia um curativo de qualquer coisita que a gente apanhasse. Já morreu. Chamava-se José Augusto Martins. Era enfermeiro. Quer dizer, uma espécie de enfermeiro. Quando a gente cortava um dedo, punha sulfamidas, punha mercúrio, água oxigenada, fazia uns pensozitos e assim se curava.

Nessa altura, nós curávamos a constipação com um chá, leite e o que calhava. Para a tosse e para tudo, era chá de sabugueiro. Havia o de laranjeira e de limão e, para as dores de barriga, era chá preto. Íamos agora ao médico!

Até tínhamos aqui uma parteira. Aprendeu com o médico. Esteve aí uma vez uma professora. Era a dona Idalina, a última professora que eu tive. Não sei se era a filha mais velha, se era o filho. Mas do primeiro filho que ela teve, a parteira foi para lá, mas não se entendia com o parto e chamou o médico. Veio cá o doutor Adolfo que era de Côja. Depois, ela aprendeu com ele e foi sempre a parteira da aldeia. Chamava-se Gracinda. Foi ela que ajudou a nascer a quase todos cá. Quando não se conseguia desenrascar, chamava o médico. Mas foi só aquela professora e uma outra que cá teve dois gémeos, acho eu. Essa é que também foi preciso cá vir o médico. Quer dizer, eu acho que nem veio o médico para a Arminda. Primeiro nasceu um, depois nasceu o outro e a parteira é que apartou os filhos. Só a chamavam na altura que a gente andávamos com o parto, para nascerem os filhos. Depois, andava oito ou 15 dias a lavar o menino.

De resto, éramos nós que cuidávamos das crianças. Quando nos demorávamos muito tempo, aonde a gente deixava o menino, púnhamos-lhe uma rolha de açúcar. Arranjavam um peno branco de um lençol, uma rolha, punham-lhe açúcar e as crianças chupavam naquilo. Mais tarde usávamos chuchas daquelas de plástico. A chucha também ajuda muito a uma criança por causa dos dentes e tudo. E quando eles estão a chorar, a gente mete-lhe a chucha na boca e eles calam-se.