“Havia uma forneira”

Antigamente, a gente fazia a broa. Faz-se um crescentezito na véspera, uma espécie de fermento, põe-se sal, põe-se água quente e tem que se amassar a farinha. Moía-se em moinhos que cá havia antigamente. Eu não tinha, mas moía nos moinhos dos outros, das outras pessoas. Pedíamos e eles deixavam moer a gente. Era tudo moinhos caseiros lá nas ribeiras e moíamos de graça. A água era de graça, era tudo de graça. Quando não tínhamos milho, comprávamos a farinha ao moleiro. Agora, não sei se ainda há aí algum moinho nem se não, mas acho que já cá não há nada.

Para cozer a broa, cozíamos nos fornos de outras pessoas, também. Cozíamos duas, três pessoas. No tempo da minha mãe, coziam muitas. Eram quatro, cinco e havia uma forneira. Então, a forneira mandava aquelas pessoas amassar a broa, todas ao mesmo tempo. Acendia o forno, aquecia-o e depois cada uma dava-lhe uma merendeira. Era um bocadinho de massa na mão. Punham aquilo para dentro duma tigela e ela, de cada fornada que coziam, fazia uma, duas broas, conforme. Íamos todas para o forno ao mesmo tempo, também.

Eu só cozia com a minha tia e era poucochinha broa, porque, na altura, eu estava sozinha. Duravam para toda a semana. Havia outra senhora que fazia o mesmo. As pessoas coziam todas juntas e cada uma punha seu sinal. Uma fazia assim um belisco na broa, outra punha um dedo com um buraco, outra punha uma caruma. Era assim. E conhecia-se.