“Era todo o dia escola”

Fui para a escola a primeira vez toda contente. Já tinha 7 anos feitos, parece-me. A escola era no Areal, por cima da Junta. Entrávamos, tínhamos um quarto para um lado, onde púnhamos os casacos. Os que vinham da freguesia tinham os casacos nuns cabides que ali havia e arrumavam os cestos naquele quartinho. Depois, entrava-se a porta para dentro e era uma sala ampla. Uma sala grande onde estávamos todos misturados, rapazes e raparigas. Ainda havia bastantes.

A minha professora era a dona Lucília. Depois, andei com a dona Fernanda. E, depois, andei com a dona Idalina. Fiz o exame da terceira classe com ela. Não eram más. Eram boas professoras. Ensinavam como as outras. Fazíamos ditados, fazíamos redacções, fazíamos cópias, contas, problemas… Era assim antigamente. Às vezes, castigavam. Davam reguadas e com a vara na cabeça. E algum dia nós agredíamos as professoras como agora? Agora é uma pouca-vergonha. Não tem jeito nenhum. Naquele tempo, nós é que batíamos numa professora? Ai daquele!

De manhã, a gente entrava às nove horas. Saíamos ao meio-dia para almoçar. Tínhamos aquele recreio até à uma hora, quando íamos almoçar. A gente depressa comia e acho que era à uma ou às duas horas que a gente entrava. Depois, saíamos às três. Todo o dia escola, mas ainda tínhamos um recreio às três horas para virmos lanchar. Quando já andávamos na terceira classe, entrávamos das cinco até às seis. Era uma hora de Problemas.

Depois, brincávamos. No meu tempo, fazíamos umas rodas e andávamos às nações. Chamávamos as nações. Fazíamos uma roda aqui, outra roda ali, outra roda além, com um lápis ou um giz. Depois, um punha-se numa roda, outro punha-se noutra, outro punha-se noutra e andávamos de uma roda para a outra a fugirmos e a saltarmos duns para os outros. Ou estava um no meio, o outro saltava para a outra, rodava-lhe a roda. E andávamos também a dançar e às escondidas. Era engraçado. Não havia brinquedos, não tínhamos bonecas, não tínhamos nada. Antigamente não havia nada. Os nossos pais andavam a trabalhar e viviam pobres. O nosso brinquedo era a roçadoira para ir ao mato.