Tradições que se perdem com o tempo

No Verão, em Setembro, quando se apanhava o milho, juntavam o milho e vínhamos todos às debulhas uns dos outros. Era bonito. Os homens sentavam-se e malhavam o milho e nós debulhávamos depois o que ficava nos casulos. Eram os serões. Fazíamos serão a debulhar o milho, a cantar e a falar. Depois davam castanhas secas, davam vinho, davam um bocado de jeropiga para a gente beber, bolachas, um doce, qualquer coisa assim.

O Natal não era nada. Fazíamos os cepos só e umas filhós em casa. Punham uma fogueira muito grande ali ao pé da capela. Arranjavam aqueles coisos dos pinheiros, punham tudo junto e depois ardia aquilo. Era para se irem aquecer e para irem lá passar um bocado. E este ano também fizeram. Agora até fazem a sopa de pedra. É uma sopa com carne, feijão e couves. Antigamente, não havia nada disso.

Quando nós éramos pequenitas, nos Reis, as crianças pediam as Janeiras. Íamos pedir a todas as portas:

- “Dê-me as Janeiras! Dê-me as Janeiras!”

Davam-nos tangerinas, laranjas, castanhas secas, figos secos, só estas coisitas assim. Ninguém tinha dinheiro. Era tudo pobre. Se não davam, não davam. Íamos embora para outro lado.

No dia 1 de Maio, não costumamos ir ao mato, nem trazer nada para casa. Vêm as cobras. Agora é o Dia do Trabalhador. Não trabalhamos. Trabalhamos no campo, mas não trazemos nada para casa de hortaliças, nem mato, nem lenha, nem nada. Eu nunca experimentei a trazer nada. Ainda hoje, tenho medo das cobras. Aqui no quintal já eu as encontrei. Até ali na garagem já encontrei uma, uma na capoeira das galinhas e lá em baixo, na loja, também.