“A minha comida caseira”

A minha mãe fazia muita vez o comer e nós aprendíamos. Ensinava-nos a assar carne no forno, temperar, guisados, a comida que nós fazemos caseira. Eu não sei fazer comidas como há em restaurantes e outras coisas assim. Não sou capaz. Sei fazer a minha comida caseira.

Quando se mata um cabrito, faz-se arroz de fressura. É a fressura dos cabritos, das reses. É o fígado, é o bofe e essas coisas todas do cabrito. Fazem assim: daquele sangue que tiram do cabrito, mexem bem mexidito com vinagre e aquilo não coalha. O sangue é cozido, parece-me, e depois metem naquele arroz. No fim de estar o arroz quase pronto, migam aquilo miudinho, esfarelam o sangue e põem. É bom. Muito bom.

A chanfana também faço. É carne dessas reses maiores, ovelha, carneiro ou chibo. Mas há cabrito, também. Quer dizer, aqueles mais novinhos, ainda melhor. Tempera-se na véspera e deixa-se marinar em vinho, alho, colorau, piripiri, louro, salsa e essas coisinhas assim. Ao outro dia, miga-se a cebola e põe-se a assar.

Fazíamos tudo. Arroz-doce, tigelada, tapioca, coscoréis... Os coscoréis é assim: a gente põe a farinha, o fermento, um bocadinho de aguardente, um bocadinho de sal, uma dúzia de ovos por 1 quilo de farinha e açúcar, umas colheres de açúcar. Depois, amassa-se tudo bem amassadinho e deixa-se levedar. Então, fazem-se em azeite ou óleo. O arroz-doce: põe-se a panela ao lume com um bocadinho de água. Quando estiver a água a ferver, põe-se-lhe o arroz para dentro e uma casquinha de limão. E deixa-se abrir o arroz bem abertinho. Depois de o arroz estar bem abertinho, põe-se-lhe leite e deixa-se ferver bem no leite. Tem que se cozer bem o arroz, porque, se lhe puser o açúcar sem o arroz estar cozido, já não coze mais. Damos o açúcar no fim, pronto. Depois tira-se o arroz, põe-se nas tacinhas ou onde a gente quer e põe-se canela. E a tapioca é feita da mesma maneira. A tigelada: batem-se os ovos bem batidos e põe-se açúcar a nosso gosto. Depois, com o forno quentinho, põe-se a fazer.