“Chamavam a espiga de abraço”

No tempo da vindima, tudo fazia as suas vindimas. E, quando apanhavam o milho, faziam a desfolhada também. Era de dia e, às vezes, à noite. Havia uns pauzitos para malhar o milho e depois as pessoas iam ajudar uns aos outros a debulhar. Debulhava-se o milho à mão. Agora não é assim, já é tudo por máquinas. Depois juntavam-se pessoas a ajudar a descascar o milho. Ai, era uma paródia. Às vezes até cantavam a debulhar o milho. Quando aparecia uma espiga de abraço, até diziam:

- “Olha, àquela calhou-lhe uma espiga de abraço!”

Era aquelas encarnadas. Chamavam a espiga de abraço. Depois davam um abraço à que calhasse a espiga encarnada. Se quisesse. Outras vezes não, não davam. Mas era bonito até. Agora não. Agora é as máquinas. Vêm, é num instante.