Roupa de domingo

Andei na doutrina, fiz a Comunhão, isso segui tudo. Tinha de ser. Quem dava a doutrina eram umas senhoras de culto. Eram senhoras que não trabalhavam nem no campo, nem nada. Estavam em casa e a gente, às vezes, ia para casa delas e elas iam à igreja, quando calhava e ensinavam-nos a doutrina. E andei na Cruzada, chamavam a Cruzada. Era um grupo de meninos. Tínhamos uma veste com uma cruzinha e quando era preciso, até numa festa ou assim, não podíamos faltar, tínhamos de ir.

Na Comunhão íamos de branco, todas bem preparadas. Tinha de se arranjar quando não havia para comprar e pedia-se emprestado de umas para as outras. No dia-a-dia isso sempre se ia comprando uns trapitos. Uma roupita barata, não era como agora coisas caras. Não se comprava feito. Comprávamos o pano, havia muitas lojas e costureiras e elas faziam-nos os fatos, o vestido, as saias, as blusas. A gente lavava ao domingo para vestir à segunda. Às vezes, mudávamos. Sempre se tinha mais uma roupita. Nas festas fazíamos uma roupita mais, para trazermos naquele dia mais asseado. E para os bailes vestíamos a roupa que tínhamos de domingo. Sempre tínhamos a roupita dos domingos, de ir à missa, para irmos ao baile. Sempre íamos mais jeitosas. Era a mesma coisa da semana, o que é que tínhamos mais guardado. Guardávamos mais para vestir naquele dia.