“Uma casa grande”

Na altura, a casa onde nasci era uma casa boa mas depois foi envelhecendo. Era uma casa grande, com divisões suficientes para os filhos todos. Dormiam duas pessoas conforme calhava. Mas era uma casa grande. Tinha uma cozinha muito antiga, como eram todas, na altura. Agora é que é só luxos mas, naquela altura, eram umas cozinhas com lareira. Cozinhava-se em panelas de ferro. Cozinhava-se de tudo na mesma como agora. O que é que não comiam tanta carne como comem agora. Criava-se um porquinho, matava-se. Comia-se dali. Punha-se na salgadeira, e criávamos galinhas e tínhamos cabeças de gado: cabras, ovelhas e, às vezes, a gente comíamos aquela criação que dava aqueles animais. E comíamos feijão, batatas porque semeávamos, semeávamos muitas. E era o que se comia. E arroz e massa também. Fazia-se uma boa panela de sopa. De manhã, fervia-se sopa com farinha ou com broa e comíamos essas papas e eram bem boas, melhor do que agora.

Éramos sete. Com os meus pais, nove. Era só um rapaz e por pouca sorte era deficiente. E raparigas éramos seis. Em minha casa brincávamos pouco. Não brincávamos assim muito, não. E não havia dinheiro para brinquedos, nessa altura.