A arte de carpinteiro

Comecei a crescer. Aos 11 anos fui começar a dar serventia a pedreiros. Com um homenzinho das obras que tinha uma carpintaria. Andei ali dois ou três anos nas obras, então fui para aprender a arte de carpinteiro. Naquele tempo era tudo muito diferente de hoje. Era tudo feito à mão. Portas, janelas, era tudo feito à mão. A madeira era tudo aparelhada à mão. Não havia cá máquinas, não havia nada. No Inverno fazíamos as coisas na oficina. Era tudo feito à mão, não havia lá máquinas, não havia nada. E depois quando era no Verão íamos para as obras. Assentar as portas, janelas, essa coisa toda. A gente ia para o Monte Frio, íamos para o Sardal, para os Pardieiros, a pé. Íamos para as Luadas, para Pai das Donas. Uma pessoa trabalhava de manhã à noite.

Andava também um sujeito que era aqui dos Pardieiros. Já morreu. Já tinha assim uma idade, e andávamos ali trabalhar para o cimo da Benfeita. Eu levava o meu carrego e ele coitado, não podia já com o dele, que era velhote. Eu agarrava no meu carrego e no dele, levava tudo por aí acima. Era sempre a andar. O homenzito todo contente porque ajudava-o. Levava o carrego dele e o meu. Naquele tempo eu tinha cabedal e podia, hoje não. E foi assim até à idade de me casar.

Entretanto fui para a tropa. Assentei praça em Abril de 1964 e saí em Junho ou Julho de 1966. Não cheguei a ir para fora. Foi tudo cá. Estive na Figueira, depois estive em Tancos. Quando vinha de férias lá ia eu trabalhar. Um mesito de férias lá ia trabalhar para a oficina para ganhar algum para levar. Andei assim até me casar.