“Era uma casa boa”

A casa onde eu vivia com os meus avós é grande, é dentro de um quintal, quando se vem da igreja para cima. A minha prima, uma neta do meu avô, é hoje a dona da casa. Era exactamente como é hoje. Só teve uns arranjozitos. Fizeram mais tarde uma garagem e o terraço por cima. Demais, a casa está como era. Era uma casa boa. Estava caiada, mas eu julgo que aquilo era pedra e por dentro era soalho. Por baixo, o rés-do-chão tinha umas duas salas, dois quartos, uma cozinha grande e a varanda. Depois, tinha em cima quatro quartos, uma salinha e uma varanda grande, também. E fora o sótão.

Não havia casas de banho, antigamente. A minha casita tinha uma em madeira no quintal. Mas havia muita casa que não tinha. Dentro de casa, era muito raro. Havia algumas, mas pouco. Tomavam banho num alguidar, uns alguidares grandes. Tinha-se de aquecer a água e pôr no alguidar. Era assim.

Havia também loja, adega do vinho e tudo. Eu era pequena, mas ainda me lembra que tinham lá uma cabra e umas galinhas. Agora, a loja é diferente, porque foi arranjada. A minha prima tem um tanque do vinho e dantes não. Eram umas dornas em madeira e pipos.

Vivia com os meus avós, mas tinha sempre mulheres lá a trabalhar. Tinham a criada, uma mulher-a-dias. Eles, coitadinhos, já eram velhinhos, também. Como a minha avó estava mal, as minhas tias, filhas do meu avô, todos os dias ali iam. Convivia muito a família. Fazíamos os serões e costurávamos rendas e bordados. Agora já me custa muito por causa das mãos, que adormecem, mas fiz muito ainda. À noite e até de dia.