“Uma coisa de farmacêutica”

Primeiro, em Lisboa, fui para um armazém no Bairro Alto. Era uma coisa de farmacêutica, a cortar ervas para remédios. Eles tinham aquilo tudo numerado. Era assim uma coisa com prateleiras, uma pessoa cortava ali as ervas todas e punha aquilo tudo em ordem. Eles, depois, chegavam lá, tiravam aquela coisa e cortávamos assim bocadinhos miúdos com uma tesoura. Eles chegavam ali, tiravam daquela coisa. Estava marcada, tinha o nome da erva e levavam-na para medicamentos. Não sei donde é que eles a gastavam. Havia lá um laboratório e eles aí gastavam. Ganhava 17 escudos por dia. Se fosse por mês, então ainda pior! Nem dava para comer. Era no tempo do Salazar. Era uma miséria. Ainda lá estive uns dois meses ou três, mas aquilo chegava-se ao fim do mês para comer e pagar a renda, ia-se embora o dinheiro todo. Disse assim:

- Então, isto não adianta cá estar!

Era pouco. Tive que procurar outro coiso melhor e mudei-me.